3/25/2009

Realpolitik

A palavra do título é um dos relativamente poucos termos em língua alemã que subsistem no mundo económico e político moderno. Favorito de Bismarck ainda no século XIX, o conceito atravessou a História para traduzir, basicamente, uma política realista, que olhe mais a pragmatismos do que a ideologias. Tomemos as relações entre a China e os Estados Unidos: inimigos, inimigos, negócios à parte.
Presentemente, em face da crise financeira e económica que está a abalar o mundo, sente-se cada vez mais a necessidade de políticas pragmáticas. Por outro lado, paninhos quentes não chegam: são necessárias medidas realistas que não se quedem pelo papel.
Todos temos assistido a um recrudescer das intervenções estatais nos mais diferentes países. O suporte à economia, a injecção de dinheiro em bancos privados, etc. tem sido fundamentalmente obra do Estado. Ora, de onde podem vir os dinheiros necessários para que o Estado cumpra esta sua missão de apagar fogos? Tomemos o caso português: será eticamente admissível que o nosso Estado injecte capital que provém de todos os contribuintes para proporcionar o alívio de bancos que beneficiam, de facto, os mais ricos? Mesmo que se contemporize temporariamente com esta situação, há uma faceta relevante que não pode ser deixada de fora: os impostos devidos ao Estado por grandes fortunas, especialmente se estas fortunas foram colocadas em paraísos fiscais, chamem-se eles Lichtenstein, Jersey, Gibraltar, Andorra ou Suiça. Mesmo que esse dinheiro não regresse ao país, os impostos devidos – e em pura evasão fiscal – terão de entrar nos cofres do Estado. Vai neste sentido a maior transparência já exigida – e aceite – a países como o Lichtenstein e a Suiça. Como a crise toca a todos, o capital acumulado e que habitualmente foge aos impostos nos países em que se forma vai ter de cumprir a sua obrigação ética e realista de contribuir para os custos de construção e manutenção de escolas, hospitais, serviços de segurança social e justiça, estradas, etc.
Estou convicto de que a próxima reunião do G20 prevista para 2 de Abril em Londres vai dar um passo importante nesta direcção. Estão em jogo, à escala global, triliões de euros. Pragmatismo precisa-se. Res, non verba.

P.S. Um aspecto importante para que os governantes de qualquer país concordem em pôr em marcha uma maior transparência e colaboração efectiva dos paraísos fiscais é o facto de se tratar de uma medida que, longe de fazer perder votos em eleições, leva a ganhá-los em número muito apreciável. Constitui uma boa contrapartida ao real benefício estatal de apoio aos mais ricos através da banca.

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