3/22/2009

Uma jovem democracia


Ontem, na busca de umas tantas fotografias antigas, não foi sem alguma surpresa que a certa altura deparei com esta que acima reproduzo. Tive que voar para a segunda metade dos anos 70 para a situar. Depois, no entanto, a lembrança veio a galope e, o que é mais, com alguns pormenores para mim bastante interessantes.
Nesse ano, a minha mulher e eu tínhamos decidido fazer uns dias de férias só com o nosso filho, que tinha então à volta de cinco anos. Estávamos no Verão. Pessoalmente, pensei que gostaria de estar junto a uma praia, num sítio também com alguma natureza vegetal, longe das gravatas citadinas. Como meses antes, ainda na Primavera, tinha visitado a costa alentejana, fui tentado a ir pela primeira vez para um parque de campismo. Um que ia ainda ser inagurado! Vila Nova de Milfontes foi o local escolhido.
Ora, durante um dos dias da nossa estadia no parque recebemos a notícia de que o Presidente da República iria almoçar lá. Houve naturalmente um certo alvoroço. Nesse dia, voltámos da nossa manhã de praia um pouco mais cedo do que o habitual. Uma vez de regresso ao parque, confirmámos a notícia. Dei uma saltada ao local e, de caminho, levei a máquina fotográfica. Sem qualquer protocolo, sem qualquer segurança à vista, aproximei-me da mesa e pedi autorização para tirar uma fotografia. A autorização foi pronta e agradavelmente concedida. O sol alentejano batia forte na mesa, causando um glare que ficaria bem visível na foto mas que não consegui evitar. Porém, houve uma outra coisa que consegui evitar: a jarra com cravos vermelhos que estava à frente do casal Eanes e que pedi para retirar um pouco para o lado. Pedido aceite, tirei então a foto. Não sei bem quem é o indivíduo que está de costas, mas ao lado de Manuela Eanes vê-se aquele que é hoje o Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, filho de um militar possivelmente colega de Eanes.
O que mais admirei na situação foi a frescura da democracia portuguesa, o à-vontade tão diferente da rigidez formal que eu tinha tantas vezes visto no cerimonial balofo de outras pessoas e outras paragens. Ali, naquele Alentejo amigo, estava toda a gente como em casa, saudava-se um respirar diferente. Quando, vestido com uma T-shirt, calções e ténis, regressei à tenda com o meu filho, vinha cheio de boas impressões do meu novo país, aquele onde o miúdo ao meu lado ia crescer.
P.S. Não me esqueci de repor os cravos vermelhos em frente ao casal. Eles mereciam-nos.

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