Como sabemos, está a aproximar-se a galope o início do período de três eleições, para o Parlamento Europeu, para as autarquias e a Assembleia da República. Talvez por ter três objectivos diferentes em vista, o Governo está a trocar os olhos aos cidadãos. No mês passado, quando saiu uma notícia relativa a multas fiscais que atingiriam 45 mil reformados, o PM garantiu que não anularia as coimas. Terá dito na altura que este não é "o momento para, por demagogia e eleitoralismo, sermos mais simpáticos". Este posicionamento foi entretanto alterado e agora já foi anunciado que as coimas em questão seriam anuladas. Como é? Será por eleitoralismo e demagogia, para utilizar as palavras do PM? Quarenta e cinco mil são muitos votos. Mas será que o PM não sabe que ordem + contra-ordem = desordem? Claro que ele, como político, sabe. Os políticos sabem tudo.
Porém, às vezes parece que não. A lei do financiamento dos partidos, mencionada neste blog a semana passada (vd. As instituições não se auto-reformam) foi aprovada por consenso na Assembleia da República pelas partes particularmente interessadas: os partidos. Tratou-se de uma típica acção corporativista do tipo "venha-a-nós". Pois bem. Em face do escândalo que entretanto se gerou, os partidos já se propõem rever tudo aquilo que ainda há pouco aprovaram. Estamos a brincar aos meninos crescidos?
A revisão do sigilo bancário proposta pelo governo, que detém maioria absoluta no Parlamento, afinal pariu uma formiga. As promessas foram às malvas. Qualquer semelhança com a lei em vigor em Espanha – país em que se mata o touro – é pura coincidência. Que orientação é esta que mais parece desorientação total? Tudo é mais pontual que estratégico. Porque é que não se tomam verdadeiras medidas para impedir o alastramento da corrupção que grassa por aí e se fica por mezinhas que só lembram o clássico siciliano "é preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma"?
É um lugar-comum dizer-se que os partidos no poder governam mais para as eleições do que para as gerações. Os poucos itens acima mencionados, que são uma pequeníssima amostra do que para aí vai de promete-uma-coisa-para-ver-o-que-dá-e-arrepia-caminho-se-der-para-o-torto, são esclarecedores. E quanto a desenrascanços de obras à pressa em estradas e coisas similares de forma a permitirem que governo e autarcas apresentem obra feita, estamos conversados. Ora se neste país o grande rumo que se conhece tem como destino as eleições, é porque embarcámos sem dúvida num autêntico desrumo. Infelizmente a política continua a ser poluítica.
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