5/22/2010

Ave, Obama! Europa te salutat!


Não respondo muito pelo meu barbaríssimo latim, mas todos entenderão o que quero dizer. Fui, como a esmagadora maioria dos portugueses, um inquestionável apoiante de Obama antes da sua eleição. Posteriormente, tive dúvidas, que manifestei, aquando do Prémio Nobel que lhe foi atribuído ainda sem grandes realizações conseguidas. Saúdo-o agora, e toda a Administração americana, por ter finalmente dado o passo em frente que era necessário em termos de finanças especulativas.
Entre outros posts, o azweblog questionou-se o ano passado em 7 de Fevereiro e em 27 de Julho sobre a regulação a impor aos poderosíssimos hedge funds, que continuam a varrer as bolsas de valores em praticamente todo o mundo. A grande notícia de ontem é que, finalmente, os hedge funds vão passar a ter algum controlo. A despeito de uma tremenda contra-campanha promovida por lobbies financiados por especuladores que nisso têm interesse directo ou indirecto, Obama conseguiu fazer passar no Senado uma série de medidas que, segundo os analistas, só é comparável às mudanças do New Deal, de FD Roosevelt.As medidas tomadas dizem apenas respeito aos Estados Unidos, mas espera-se que venham a contaminar positivamente a Europa. Nesta, o conservador David Cameron, recém-eleito primeiro-ministro do Reino Unido, é um natural defensor dos hedge funds, que têm 80 por cento do seu movimento na bolsa londrina.
As agências de rating, que tão mal se portaram antes do deflagrar da crise que se iniciou em 2008 e que está possivelmente ainda longe do seu fim, passam a ter um intermediário entre si e quem elas avaliam. Mais: os clientes passam a poder processar as agências.
Os derivados, que circulavam na sombra ou mesmo na escuridão e que tiveram igualmente papel preponderante na formação e desencadear da crise, passam a ter vigilância e regulação próprias. Por sua vez, os bancos deixam de poder investir directamente nos derivados e, significativamente, passam a não poder usar o dinheiro dos depósitos para aplicar em negócios como os dos hedge funds.
Na Europa, houve há poucos dias uma medida tomada isoladamente pela Alemanha que é igualmente de louvar: foi proibido o short selling (vendas a descoberto de títulos de dívida).
Ainda fica muita coisa de fora, nomeadamente a existência dos centros offshore que tanto prejudicam os Estados sob o ponto de vista fiscal, mas este novo passo dado é muito importante. Vai trazer alguma acalmia às bolsas financeiras, conquanto os Credit Default Swaps (CDS) continuem a deixar em aberto a possibilidade de se especular contra uma entidade ou um país.

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