5/02/2010

Os grandes projectos

A verdade da situação económica e financeira de Portugal acabou por vir ao de cima. E não é brilhante. A partir de agora, sempre que Portugal pedir mais dinheiro emprestado ao estrangeiro, pagará um juro consideravelmente mais alto por ele.
A gravidade da situação actual, que até poderá levar o país a sair do euro, pode ser menos má do que a da Grécia, mas dentro da Eurolândia pior só encontramos mesmo esse país do Mar Egeu. Neste sentido, convirá porventura recordar algumas das medidas que irão recair sobre os gregos, numa factura social que já foi negociada com a União Europeia e com o FMI: supressão dos 13º e 14º meses no salário dos funcionários públicos; idem em todas as pensões de reforma; a idade da reforma elevada para os 67 anos; revisão da lei dos despedimentos; o aumento do IVA.
Ora, a supressão dos 13º e 14º meses para os trabalhadores no activo e para os pensionistas significa para cada um deles uma quebra na ordem dos 14 por cento (um pouco mais, de facto). Em termos reais, quem ganha 100 passa a receber ao fim do mês apenas 85 e uns pozitos mais.
Quando se vêem as barbas do vizinho a arder, é natural que olhemos para as nossas e as ponhamos de molho, porque barbas molhadas custam mais a pegar fogo. Seria, em princípio, lógico que Portugal deixasse o mais possível de pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro e vivesse mais com a prata da casa. Pareceria uma medida de bom senso. Sucede que os dois grandes projectos portugueses - a construção do novo aeroporto de Lisboa e o projecto ferroviário geralmente conhecido por TGV – parece irem seguir em frente, a despeito de o senso comum ir contra algo que está muito longe de ser urgente. Possivelmente serão projectos com alguma urgência política – para atender a promessas feitas – mas neste momento sem lógica económico-financeira. Dizia Brecht que as derrotas e as vitórias de quem está no topo não são necessariamente derrotas e vitórias para quem está abaixo, e este parece-me ser um caso ao qual esta reflexão se aplica. Por outro lado, uma ideia pode ser correcta em 2004 e desajustada em 2010. Saber corrigir-se e pensar em defender os interesses da Nação acima de tudo é característica de um verdadeiro homem de Estado. Insistir, contra ventos e marés, em mais auto-estradas e mais aeroportos e o TGV parece ser nesta altura um erro tremendo. Errar é humano, todos sabemos, mas errar muito, como alguém dizia, é desumano. Basta!

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