5/09/2010

Duas saudações

A primeira destas saudações vai para o governo deste país que, finalmente, teve o juízo suficiente para rever o timing das grandes obras previstas e considerar mesmo a sua reavaliação. Ver a casa a arder e continuar como se nada se passasse era algo que não fazia qualquer sentido.
A segunda saudação vai para uma efeméride que o jornal Público não se esqueceu de registar: a passagem do 50º aniversário do aparecimento da pílula. Longe de ser apenas um assunto feminino, como todos sabemos, a pílula teve um efeito extraordinário na evolução da sociedade e de muitos dos seus costumes. Curiosamente, há pouco tempo li um artigo sobre a pílula originalmente escrito para a revista The New Yorker e agora incluído em What the Dog Saw, um bom livro de Malcolm Gladwell. O mais interessante do artigo é o facto de um dos inventores da pílula, o médico e investigador John Rock, ter sido profundamente católico e estar plenamente convencido de que, devido à regularização do período menstrual que a pílula provocava, ela poderia e deveria ser considerada um método natural. Porém, a Igreja Católica não esteve pelos ajustes em aceitar o argumento.
Pessoalmente, recordo-me que quando nos anos 60 a pílula foi introduzida em Portugal havia uma natural cautela da parte feminina em analisar os prós e os contras. E correram os mais diversos boatos sobre os efeitos negativos da pílula. A sociedade estava ainda tão obcecada com a virgindade feminina que havia mulheres que, naturalmente, se sentiam acanhadas e consequentemente sem grande vontade de entrar numa farmácia a pedir que lhes aviassem a receita. Esta era absolutamente essencial. Recordo-me muito bem desse facto porque numa determinada altura – eu era solteiro e assim continuaria por mais uns bons anos – tive de pedir a um médico conhecido se me passava em nome de uma amiga várias receitas para a dita pílula. E era eu depois que as aviava! Mas que o comprimido era importante, isso sem dúvida. E uma novidade, também. Na casa dessa minha amiga, o grande espelho do quarto de banho tinha na parte superior uma linha escrita em letra bem grande com bâton vermelho: "Não esquecer tomar a pílula!"
Outros tempos.

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