1/27/2006

Independência

Os jornais acabam de referir a formação da ERC (Entidade Reguladora da Comunicação), que vem substituir a antiga Alta-Autoridade. Não há nada de especial neste facto. Os nomes dos respectivos membros serão proximamente votados pela Assembleia da República. Sucede, porém, que dos quatro nomes constantes da única lista existente, dois foram indicados pelo PS e dois pelo PSD. Um quinto será posteriormente cooptado pelos membros eleitos.
À parte os nomes dos candidatos, que não me levantam qualquer comentário, não posso deixar de verificar que mais uma vez, tal como sucede em vários órgãos, desde a magistratura até outros pelouros, eles têm a sua origem nos partidos. São indicados pelo partido A ou pelo B. Que se me perdoe o juízo, a regra é que, quando alguém é indicado por outrem, esse alguém deve respeitar o seu proponente. Por outras palavras: em vez de ser a pessoa em questão a emitir uma opinião independente, ela é apenas o representante de um partido que ali está para dizer sim ou não, consoante as conveniências partidárias. Repugna-me que assim seja. As pessoas não são meras correias de transmissão. Sabem pensar pela sua própria cabeça. Não estão em órgãos para defender as cores de alguém que está por trás de si. De alguém que, por não ser ubíquo, tem de arranjar quem o represente.
Há pessoas para quem adoptar este comportamento é fácil. Há outras para quem isso é muito penoso. Quem uma vez desrespeitar a voz que está por detrás de si e julgar, pela sua própria cabeça, contra os interesses de quem lá o colocou, pode ter a certeza de que não mais será convidado a integrar qualquer comissão de responsabilidade.
Ninguém quer aprender a lição que a candidatura de Manuel Alegre acaba de nos dar, e de forma tão expressiva. Mais de um milhão de portugueses votaram em Alegre, que concorreu em candidatura independente de qualquer partido, apoiado por cidadãos independentes como ele. Enquanto forem os partidos a indigitar A ou B para determinadas funções, não se pode esperar - em minha opinião - pareceres isentos, descomprometidos e meramente profissionais, como a maioria dos cidadãos naturalmente desejam e esperam.

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