1/11/2006

Laicismo

Na sequência do meu pequeno texto sobre indultos presidenciais, gostaria de trazer à baila um outro ponto. Imagine o leitor que amigos seus vão inaugurar uma moradia, que a custo construíram e de que se sentem naturalmente orgulhosos. Para uma festinha simpática, convidam alguns familiares e os amigos mais chegados. De caminho, convidam o pároco para abençoar a casa e participar na alegria que eles sentem. Alguém levantará objecções? Não se vê por que motivo. De facto, os proprietários da moradia fazem o que consideram adequado na inauguração daquilo que lhes pertence.
Em caso idêntico, mas com famílias judias, figure-se uma cena semelhante. A única diferença é a de ser um rabi a abençoar a nova residência daquele casal. Alguma objecção? Por que motivo?
Considere-se agora a cerimónia de inauguração de uma obra de vulto, como por exemplo uma ponte como a Vasco da Gama, em Lisboa, ou uma auto-estrada. São obras custeadas por dinheiros públicos, do conjunto de todo o povo. Possivelmente até por dinheiros que vêm do povo alemão, britânico e holandês. Será normal que esteja lá um representante da Igreja Católica a dar a sua bênção? O que é que a Igreja, a que nem todos pertencem e muitos rejeitam, tem a ver com a inauguração da ponte? Os dinheiros são públicos, não privados. A Constituição portuguesa considera Portugal um estado laico, onde a adesão a diversas religiões é permitida mas, obviamente, não vincula o Estado a nenhuma delas. Esse é o princípio básico do laicismo. Então por que continuam os representantes governamentais e entidades autárquicas a convidar altos dignitários da Igreja Católica para a inauguração de obras públicas? Temos aqui uma situação claramente a rever. A Deus o que é de Deus, a César o que é de César.

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