1/22/2006

República

Concluídas as eleições para a presidência da república portuguesa, não posso deixar de admitir que estou triste. O meu fair-play e a minha condição de democrata levam-me, naturalmente, a aceitar o resultado. Foi a expressão do Portugal que temos neste momento. O que me entristece é ver o lugar de representante máximo da nação ocupado por quem é. Nunca, em trinta anos de democracia, tinha experimentado esta sensação. Eanes, Soares e Sampaio estiveram bem, no geral, e serviram o país com grande dignidade. Não só cumpriram os seus mandatos, como os viram renovados. Como português, orgulhei-me do seu desempenho. Colaborei na eleição de qualquer um deles. Portugal viu-os, apoiados pela sua Casa Civil e Casa Militar, a decidirem por si próprios e a representarem o país condignamente tanto a nível interno como externo.
O Presidente da República é um símbolo da Nação, o mais representativo, o topo da hierarquia. Tal como respeitamos o país, a sua bandeira, o seu hino, é bom que nos orgulhemos do nosso Presidente. Pela sua postura, pelo seu amor à pátria, pela sua verticalidade. Esperamos dele uma visão larga que o torne tão sensato como os "homens bons" do passado, sábios e éticos na sua forma de agir. É possível que a minha visão seja considerada antiquada e que, por conseguinte, muitos não se revejam nela. A minha tristeza advém do facto de ver eleger alguém por quem, à partida, não nutro admiração. Trata-se de algo do meu íntimo, eventualmente menos racional e mais emocional. Algo que tem a ver com a representatividade da nação em que cresci e em que aprendi a rever-me. Ir ter que suportar durante cinco anos este Presidente deprime-me. Dando embora o benefício da dúvida à pessoa que foi eleita por clara maioria pelos meus compatriotas, confesso o meu desapontamento. Dar-me-ia prazer ter que engolir mais tarde este meu sentimento e admitir que me enganei redondamente. (Entretanto, regozijo-me com o facto de um estado democrático como o nosso permitir que me expresse com esta sinceridade.)

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