7/01/2006

Censura económica

Todos nós sabemos de um caso ou outro de um jornal regional subsidiado pelo respectivo município com uns tantos milhares de euros anuais para que publique notícias referentes à Câmara. É geralmente uma ajuda importante para a sobrevivência do periódico, especialmente em meios pequenos onde a publicidade não abunda. O jornal da terra onde nasci, de que sou assinante, recebeu durante algum tempo (hoje não posso afirmar que receba) uma verba da Câmara Municipal. Contudo, justiça seja feita, vi com muita frequência críticas à edilidade, nomeadamente através da reprodução de intervenções da oposição.
O importante de factos recentes é que o município de Gaia parece ter importado da Madeira mais o jeito do seu governante-mor do que dos seus belos antúrios, das orquídeas e hortênsias. Quem, da imprensa local, quiser assinar um contrato para receber um subsídio compromete-se a não dizer mal do município. Faceta com contornos semelhantes foi patenteada pelo Presidente da C.M. Porto, que deixará de subsidiar instituições que façam críticas à sua Câmara. Assim, entre outras formas, se faz censura em Portugal. Não são só bancos - entidades privadas - que, ao sentirem-se atingidos por notícias que lhes são adversas, decidem retirar toda a sua publicidade de determinados jornais. São as entidades públicas - usufrutuárias dos dinheiros dos contribuintes - que decidem fazer o mesmo. Quer queiramos, quer não, estamos com uma democracia cada vez mais afunilada.

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