7/09/2006

digitalMENTE

A Inteligência Artificial comemora nesta semana os seus 50 anos. Presto-lhe a minha homenagem sugerindo-vos a leitura de um delicioso e muito informativo livro de divulgação científica (ou será antes divulgação filosófica?) que contribuiu decisivamente para a minha actual convicção de que o aparecimento de máquinas pensantes é tão só uma elementar questão de tempo.
O livro intitula-se O QUINTETO DE CAMBRIDGE e o autor chama-se John L. Casti. Foi editado entre nós pela Bizâncio e presumo que não esteja esgotado.
A "acção" decorre em Christ College / Cambridge, no ano de 1949, e consiste numa suculenta discussão fictícia mantida durante um também suculento jantar, igualmente fictício, oferecido por um anfitrião real, C. P. Snow, a cinco convidados não menos reais, a saber: o matemático Alan Turing, o geneticista J. B. S. Haldane, o físico Erwin Schrödinger e o filósofo Ludwig Wittgenstein. Este último, rejeitando liminarmente a possibilidade de qualquer tipo de pensamento artificial, e Alan Turing, reconhecidamente o "pai" da IA, são os polarizadores do debate.
Esta leitura suscitou-me, entre outras, a seguinte questão: poderá uma máquina capaz de pensar fazê-lo sem a "motivação" autonómica para conservar esse poder a todo o custo, mesmo contra a vontade dos seus programadores? Uma "motivação" cuja eficácia, julgo, exigiria que o criador tivesse a generosidade de conceder à criatura, além de alma (mente), um corpo que a habilitasse a subsistir à margem da tutela humana.
Lembram-se do mentiroso computador Hal (2001, Odisseia no Espaço) - penso que a faculdade de mentir (errar ou induzir em erro deliberadamente) é condição necessária de qualquer vida mental, artificial ou não - e da sua trágica impotência física para impedir que o desligassem?
Forjar uma mente privada da "mão" capaz de fazer o que ela quer acaso não seria um monstruoso, eticamente indigno, equívoco?

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