7/28/2006

Déjà vu

Às vezes pergunto-me se gosto mais de partilhar com outros aquilo que sei ou julgo saber, ou de aprender coisas novas com outras pessoas. Se me coloco esta pergunta é porque não estou de maneira nenhuma certo da resposta. Dá-me muito prazer trocar impressões com outras pessoas, a receber e a partilhar coisas. Por outro lado, armazenar conhecimentos sem os partilhar é, sinto-o, mais do que inútil: é revoltante e deprimente. Os conhecimentos são objecto de transmissão. Eles estão no cerne da melhoria das pessoas e, no meu caso, do interesse pela vida. O déjà vu é, para mim, o pior de tudo. Tem que haver - e há sempre, se tentarmos - um pas encore vu, que nos faz brilhar os olhos e procurar mais e mais. Cabem aqui as viagens, por exemplo, com toda a preparação que naturalmente exigem e com o apport que, através da sua realização, elas invariavelmente nos fornecem. Cabem aqui as conferências, viagens de outro tipo que nos transportam frequentemente a um domínio de especialistas que faz fronteira, aqui e ali, com os nossos conhecimentos anteriores e consegue quebrar os seus limites, ampliando-os. Cabem aqui também as conversas com amigos de outras áreas de conhecimento, pelas mesmíssimas razões. As raias virtuais do nosso conhecimento recebem golpes benignos e acabam a pedir mais coisas interessantes, mais do pas encore vu.
É que a rotina, apesar de tudo o que tem de bom na nossa actividade diária, é o grande mal da nossa monotonia. As nossas rotinas, actividades fechadas que causam ondas cerebrais alfa, são importantíssimas para o nosso descanso e estado de menor alerta. A rotina em si, encarada como um comprazimento com o déjà vu, é a morte em vida. É o círculo a auto-contentar-se e a não procurar a espiral.Daí que devamos sentir necessidade de sair da rotina. Ora, para este "descolamento da rotina" (já usei tantas vezes esta frase que se tornou para mim rotineira e sem graça, ela que ao princípio teve graça) existem três tipos de agentes fundamentais: uns de natureza externa, outros de natureza interna e ainda um terceiro tipo, que combina os dois anteriores. É na predilecção por uns ou por outros que, neste campo, as pessoas se dividem.

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