5/03/2007

Pessimismo e Optimismo

Já há muitos anos, caminhava eu pela Praia da Areia Branca quando, em sentido contrário, vi um grupo de amigos que seguiam em alegre galhofa em direcção a um local que ficava a uns dois quilómetros. Depois de os saudar e perguntar-lhes onde iam, deparei com o Chico, que seguia um bom bocado atrás do grupo que também era o seu. Sucede que o Chico é coxo, o que me fez pensar que ou não o tinham visto ainda, ou então era mal feito não pararem um pouco para o deixarem juntar-se a eles. Foi aí que o Chico me gritou: "E até lhes dou 30 metros de avanço!"
Até hoje não me esqueci deste fait divers de praia. Pareceu-me extraordinário da parte dele manifestar todo aquele optimismo e reagir com humor a uma situação que outros poderiam considerar simplesmente ofensiva.
Talvez tenha sido a partir daí que comecei a prestar mais atenção ao que significa ser optimista e o seu inverso. Muito genericamente, direi hoje que o optimista satisfaz-se com o que tem, que desfruta. Por seu lado, o pessimista lastima aquilo que não tem. Enquanto o optimista tende a relembrar do passado os momentos bons e agradáveis, o pessimista inclui nessa escolha muitos momentos maus e desagradáveis.
Claro que não existem nem optimistas nem pessimistas puros, mas há uns que não ficam muito longe dessa pureza. Selecciono à vol d’oiseau umas tantas situações que considero perfeitamente possíveis, colocando o enfoque mais sobre o pessimista, espécie que é menos do meu agrado.
Se alguém diz "Este vinho é óptimo!", o pessimista poderá dizer algo como "Já tenho bebido melhor!". Semelhantemente, a um comentário sobre o tempo "O dia de hoje está esplêndido!" ouvimos frequentemente "Ainda vamos amargar este tempo!". Se alguém diz ao Paulo que está com um aspecto excelente, o Paulo poderá responder "Não me queixo do aspecto!"(o que pressupõe que tem outras coisas de que se queixa, naturalmente). Ao corriqueiro "Como vai isso, bem?" um "Menos mal, podia ir melhor!" sai normalmente (e que ninguém pergunte por que razão ele diz isso). Se lhe perguntam se gostou da recente viagem que fez pelos países bálticos, o pessimista não se esquecerá de dizer "Alguns hotéis deixavam muito a desejar." Se o optimista o aconselha a pensar "naquilo que tens, e não naquilo que não tens", é altamente provável que o pessimista responda algo como "Essa é uma maneira muito estúpida de pensar, não achas?" Se o optimista inveterado diz "Se por acaso alguma coisa de que gostaste já terminou, pensa no prazer que entretanto tiveste!", o pessimista usará a sua lógica: "Essa agora! Penso é que aquilo acabou. Essa é que é a realidade!"
Claro que estas situações poderiam multiplicar-se ad infinitum. Ao comentário normal de alguém que diz "Na nossa família não tem havido problemas", o pessimista deleitar-se-á em perguntar avisadamente "Já alguma vez fizeram partilhas?". Uma exclamação "Que sorte termos arranjado este lugar para arrumar o carro, mesmo em frente à nossa porta!" poderá ter como resposta "O que eu gostava era de ter uma garagem onde pudéssemos arrumar sempre o carro, independentemente das horas a que chegássemos!". E no futebol ou outro jogo qualquer, se é o pessimista a dizer "Vamos perder este jogo! Já só falta meia-hora!", é consolador que haja um optimista ao nosso lado a contrapor animadoramente "Até ao lavar dos cestos é vindima!"
Será possível mudá-los? É difícil. É de natureza. Ou não?

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