Há uns cinco ou seis anos, um aluno meu de Inglês escreveu num teste coisas como the society, the responsibility, the accounting e viu o seu the sistematicamente riscado. Na aula, fez a pergunta que deveria e que sempre incentivei: "Why?"
Em conformidade com uma prática habitual, pedi a um colega dele, bom aluno, para vir para o meu lado explicar-lhe o assunto. O tema já tinha sido abordado em aula, mas o aluno em questão não o teria apreendido. Na sua explicação ao colega, o José Carlos, o bom aluno, disse-lhe que substantivos abstractos, como responsibility, não podem ser definidos, exactamente por serem abstractos. O uso do artigo de-fi-ni-do seria um contra-senso, na exacta medida em que definir uma coisa que é por natureza indefinida não faz sentido, pelo menos aos olhos da língua inglesa. Só é possível, explicou ele, quando essa palavra abstracta é restringida no seu sentido, como acontece quando se utiliza um of. Deu como exemplo "The responsibility of those people".
E como é que sabemos o que é uma palavra abstracta?”, insistiu o Mário, o aluno com dúvidas. Aí foi a minha vez de apelar para a memória dele e pedir-lhe, jocosamente, para recordar substantivos não-concretos, vagos e difusos, usados pelos políticos nos seus discursos. A turma toda colaborou. Desse brainstorming em estilo de verdadeiro happening surgiram palavras que eles ouviam frequentemente sair da boca dos políticos, como crescimento, qualidade, excelência, justiça, educação, saúde, produtividade, progresso, desenvolvimento, dignidade, honestidade, ética, moral, paz, segurança, liberdade. O Mário entendeu. Riu-se, juntamente com os colegas.
Não me lembro de posteriormente ter tido que usar a minha esferográfica para corrigir os the do Mário antes de substantivos abstractos.
Sem comentários:
Enviar um comentário