10/11/2007

Palavras

Esta é uma secção com apontamentos diversos, que em princípio não fazem nem bem nem mal a ninguém. São meras curiosidades. Têm a vantagem de poder dar origem a outras curiosidades da parte de algum leitor, no sistema aqui várias vezes enunciado de comunicação e partilha.
Não resisto a contar-vos algo que desconhecia até há meia-dúzia de dias: o significado de "emérito". Para mim, emérito era um adjectivo que me dizia algo como "ilustre" ou "insigne", v.g. O emérito professor brindou-nos com uma aula magnífica. O que me escapava era o outro significado da palavra: jubilado. E então, dirão, o que tem isso? Se achei interessante, foi porque aprendi - com o emérito José Leite de Vasconcellos - que os "emeriti" eram as pessoas que no antigo Império Romano tinham direito à reforma pelos altos serviços prestados. A certa altura, o Imperador Augusto fundou na Península Ibérica uma colónia para esses reformados de luxo. Daí nasceu Emerita Augusta, que é hoje a cidade de Mérida. Assim compreendemos melhor a existência do belo teatro e de tantas outras construções romanas que a cidade outrora possuiu. E também compreendemos que as reformas de luxo já vêm de muito longe.
Mas este foi apenas um parágrafo introdutório a que não consegui resistir. O pequeno apontamento de hoje levanta uma questão, que nunca vi formulada. Falando de marcas comerciais, lembram-se de um automóvel alemão conhecido pela abreviatura DKW? Nunca encontrei ninguém que me explicasse por que motivo lemos essa marca como DêKáVê, mas em BMW lemos BêEmeDoubleyou e não BêEmeVê. ("belle merde vendue" costumavam dizer os franceses, com o seu ódio a tudo o que não é gaulês, principalmente se vem da Alemanha ou da Inglaterra).
A questão das marcas é engraçada. Pronunciamos Colgate muito bem, mas depois dizemos a marca italiana Chicco como se fosse um diminutivo de Francisco (Chico) (originalmente é Kiko). Chamamos Levi’s (lévis) aos jeans que originalmente são Livaize, lemos Maggi como se tivesse apenas um -g- , a marca alemã Miele sai da boca dos portugueses como "mil" (originalmente soa como Mila) e dizemos Volkswagen sem pronunciar o V- inicial como "f" (como muitos sabem, Volk está presente na palavra portuguesa "folclore" - as tradições, usos e costumes de um povo - e também no "that’s all folks" que conhecemos dos desenhos animados). OK, OK, tudo isto está muito bem. Entende-se. Quem manda são os homens do marketing e eles é que consideram qual é a melhor forma de o público comprar o seu produto. Period!
Entretanto, tudo isto vem a propósito de uns novos anúncios que estão agora a enxamear Lisboa com a filha do Luandino Vieira, a Cláudia, a mostrar o seu corpo, tapado aqui e ali com umas peças mais ou menos eróticas da Triumph. Meus caros amigos: por que razão é que a mesmíssima palavra, inglesa, se pronuncia aportuguesadamente (triunfe) quando se trata de lingerie e recebe a pronúncia original (traiânf) se nos referimos aos automóveis Triumph?

Sem comentários:

Enviar um comentário