10/30/2007

Petróleo alumia ou cega?

Se imaginarmos um mapa-mundo como um grande campo de futebol com um jogo a ser disputado, chegaremos possivelmente à conclusão de que, como seria normal, a América é um país que não gosta de sofrer golos e que, em conformidade, defende estratégica e inteligentemente longe da sua baliza, fazendo o chamado pressing alto.
É neste sentido que o dólar americano circula por todo o mundo em larguíssimas quantidades, o que faz com que a sua eventual vulnerabilidade seja sentida não só na América, mas também em múltiplos países que possuem títulos americanos nos seus bancos nacionais e nos privados. Com isto resguarda-se a América, como é óbvio, pois ocasionais acções contra o dólar constituem de certo modo um tiro-no-pé para quem o tentar.
A estratégia de defender longe da sua baliza faz com que os Estados Unidos detenham, astutamente, bases em quase toda a parte. Dos Açores à Alemanha, de Diego Garcia ao Paquistão, os americanos possuem bases militares em 70 países do globo, sendo que 13 dessas bases são novas, criadas depois de 11 de Setembro de 2001.
Curiosamente, até a sua principal prisão de segurança - Guantánamo - foi colocada em território exterior aos EUA, em Cuba.
Por outro lado, contradizendo-se relativamente ao muro de Berlim que a América tanto criticou e que apodou de "muro da vergonha", não só a Administração americana apoia a construção do muro-barreira de Israel, como está a erguer um enorme muro-barreira ao longo da sua vasta fronteira com o México.
Os americanos têm, ainda, agentes da CIA e personalidades importantes das cenas nacionais de várias nações a trabalharem para si em muitos pontos do globo e a fornecerem preciosos dados. A este núcleo de informações, juntam-se as dos satélites que giram ininterruptamente em volta da Terra. Pressing alto, também.
Na linha das suas protecções a distância, os americanos criaram, juntamente com os europeus, a NATO - a que De Gaulle gostava de chamar North American Treaty Organization em vez de North Atlantic -, a qual, embora fundamentalmente de defesa, já serviu para atacar Belgrado e outros pontos, tendo além disso sido invocada pelos EUA imediatamente a seguir aos ataques a Nova Iorque em 2001.
Mais recentemente, os EUA pretendem criar postos de "defesa anti-míssil" tanto na República Checa como na Polónia.
Esta listagem de casos de pressing alto não podia deixar de fora o controle semi-paranóico nos voos para os Estados Unidos, país que há muito vive o complexo da segurança. Foi na base dessa segurança que os norte-americanos criaram as suas próprias histórias, em filme e banda desenhada, de Superhomens para defenderem a super-fortaleza, fonte e farol do Bem.
Foi por este conjunto de factos que o ataque do 11 de Setembro de 2001, bem dentro do seu território, foi tão sentido pelos americanos! Lembra muito a história de Roma, que só construiu muralhas à volta da cidade séculos depois de ter criado o seu grandioso império. A construção das muralhas e a transformação de Roma em cidade-bunker marcou o início do seu declínio.
Tudo isto vem a propósito da presente situação de paranóia americana perante o Irão. Como se não bastasse o mal que os americanos andam há muito a infligir à população iraquiana para conseguirem sacar o seu petróleo, eis que agora escolhem outro alvo, rico em petróleo e gás. Na semana passada, segundo informa a Newsweek, o Presidente Bush disse numa conferência de imprensa que "se estamos interessados em evitar uma Terceira Guerra Mundial, deveremos impedir que o Irão alcance o know-how necessário para produzir armas nucleares." Por outras palavras, Bush declarou que o Irão poderia provocar uma 3ª Guerra Mundial. Um dos seus conselheiros escreveu mesmo que o Presidente iraniano é semelhante a Hitler, na medida em que se trata de um revolucionário cujo objectivo é o de desestabilizar a actual ordem internacional e substituí-la por uma nova, dominada pelo Irão e governada pelo fascismo muçulmano.
Não esquecendo que, antes de lançarem bombas atómicas sobre o Japão no final da 2ª Guerra Mundial, os EUA declararam, mentirosamente, fazê-lo em nome dos 500.000 militares americanos que operavam naquela zona do Pacífico quando na realidade tinham apenas 46.000, atente-se nos dados fornecidos pelo comedido director da citada revista. Segundo Zakaria, o Irão tem uma economia semelhante à da Finlândia em termos dimensionais, sendo o seu orçamento anual de defesa da ordem dos 4,8 biliões de dólares. Desde o século XVIII que o Irão não invade nenhum país. Por seu lado, os EUA possuem um PIB 168 vezes maior e as suas despesas com a defesa ultrapassam 110 vezes as do Irão. Anote-se que Israel e todos os países árabes - com excepção da Síria e do Iraque - são contra o Irão. Pois mesmo assim devemos acreditar que Teerão está prestes a desestabilizar a ordem mundial? Valha-nos Deus!

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