3/22/2008

Mil e uma causas

"Um vídeo como este vale mais do que mil palavras." É possível. Mas o que é garantido é que a sua passagem pela televisão originou já não mil, mas mais de um milhão de palavras, quer escritas, quer apenas ditas oralmente. O vídeo realizado com o telemóvel por um aluno de uma escola do Porto mostrando o incumprimento por uma aluna do 9º Ano de uma ordem dada pela professora e a reacção subsequente foi algo que deu que falar. Como não podia deixar de ser, voltou à baila o tema da indisciplina, a que, à falta de outra palavra mais suave, se chamou "violência nas escolas". Como é habitual nestes casos, procurou-se linearmente uma causa. Os pais, tout court, foram os mais acusados. Não é impossível, porém, que os pais da aluna em questão tenham, eles próprios, condenado a acção da filha. Mas também é possível que a tenham defendido.
Menos especificadamente, foram mencionados outros factores que podem ter levado ao acto de desobediência e indisciplina, nomeadamente a permissividade social existente. Em princípio, não excluo nenhum factor nem a combinação de vários. Permito-me, no entanto, realçar o aviltamento que se regista no status do professor. Já no final de 2004, aquando de uma acção voluntária de formação de professores que fiz numa escola de ensino básico, correspondi a um pedido de entrevista. Permito-me transcrever um excerto do jornal em que a entrevista foi publicada: "A propósito das dificuldades actualmente sentidas pelos professores, creio que a maior de todas reside no seu status. A autoridade está, de uma maneira geral, em declínio. Muitos docentes não usufruem do respeito que merecem. Na sociedade, existe uma atmosfera populista. Mesmo sem querer, o professor envereda frequentemente pelo facilitismo a fim de não se tornar impopular junto dos seus alunos. E também por outros motivos. Quando tal acontece, a sociedade ressente-se e o status do professor também. É fundamental que o aluno sinta admiração pelo professor. De outra forma, não se sentirá motivado."
A cena da Carolina Michaelis fez-me lembrar este passo. O continuado facilitismo imposto pelo Ministério desprestigiou os professores, fazendo-os executantes da sua política, por um lado, e seus escudos, por outro. Contaram-me vários professores que se viram obrigados, por assim dizer, a dar nota de passagem a alunos que em rigor não a mereciam. Este é um facto que sem dúvida desprestigia qualquer docente e cria um precedente grande que no ano seguinte provavelmente se repetirá. Quando o aluno sabe que não é 100 por cento o critério daquele professor que tem à sua frente que conta para a sua passagem não o respeita da mesma forma que outrora sucedia. Obviamente! Desse abaixamento de status se ressente depois todo o edifício. Já que não há provas de exame verdadeiramente a não ser no 12º Ano...
O que sucedeu numa escola do Porto poderia acontecer noutra instituição qualquer e com outro docente. Se os professores e alguns pais têm eventualmente alguma responsabilidade, os vários gestores do Ministério da Educação das últimas décadas têm ainda mais. (E quanto ao comportamento dos colegas de turma, todos sabemos que individualmente somos uma coisa e, colectivamente, outra.)

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