No newspeak que, através de eufemismos, procura proteger as pessoas e classes mais desfavorecidas, surgiu há anos o "gestor de espaços públicos", abreviadamente GEP. O gestor de espaços públicos exclui o mundo rural e inclui na sua actividade apenas o espaço citadino. É ele - e digo "ele" por que até hoje nunca encontrei mulheres a desempenhar este papel - que nos locais de maior movimento das cidades se assenhoreia de qualquer espaço da via pública para indicar a automobilistas que tentam estacionar a sua viatura qual o melhor lugar para o fazer. É uma missão perfeitamente inútil, pois condutores invisuais é coisa que não existe. Mas já se sabe que, em numerosos locais, quando alguém está a manobrar para estacionar o carro vai receber a visita de um GEP que, através de gestos tão conspícuos quanto de vã utilidade, lhe diz, como se estivesse a falar para um aprendiz de carta de condução, que deve virar o volante para a esquerda ou para a direita. Esta será, no entanto, a sua justificação principal para colectar o indivíduo parqueante com "uma moedinha". O típico GEP resmunga a tudo o que seja menos de 50 cêntimos e o seu vício de droga aumenta em espiral quando o cliente, à falta de trocos, lhe passa um euro para a mão.
A EMEL, empresa municipal zeladora dos estacionamentos em Lisboa, não é menos arguta do que os arrumadores em matéria de locais que precisam de ordenamento do território urbano. Daí que tenha colocado parquímetros nessas mesmas ruas e avenidas. Em princípio, a medida deveria ter condenado os GEP. Pelo contrário, beneficiou-os! Há montes de parquímetros que os GEP avariam, não para que eles não funcionem, mas ao procurar sacar antes dos funcionários da EMEL as moedas que lá caíram. As fotos acima mostram um GEP nessa árdua missão. Inadvertidos, muitos automobilistas continuam a colocar as suas moedas em parquímetros avariados, receosos de uma multa. Nunca serão os GEP que estão nas proximidades a avisá-los da avaria. De olho no seu Multibanco, aguardam por uma hora conveniente para explorarem a segunda componente do filão: já colheram a sua parte da "descoberta" do espaço vago, agora vão ocupar-se da outra parte do seu rendimento.
Foi o Padre António Vieira que nos deixou um curioso provérbio do seu tempo na interessante obra "Arte de Furtar", dedicada a Sua Majestade o rei D. João IV, o único incorrupto do reino segundo o autor: "Com arte e com engano, vivo uma parte do ano; com engano e com arte, vivo a outra parte." Coisas do século XVII.
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