Seria injusto afirmar que toda a desregulação que tem existido no mundo financeiro, cada vez em maiores doses, se deve aos Estados Unidos. Embora com maior prudência do que os seus parceiros do outro lado do Atlântico, a Europa dos ricos alinhou claramente no sistema e, depois, todos os potentados por esse mundo fora. Daí que o dinheiro que contabilisticamente circula pelo globo seja, segundo análises conservadoras, pelo menos o triplo do que o produto gerado pela economia. A actual situação de ninguém-se-entende já tem sido fartas vezes verberada na Europa. Pessoalmente, ouvi há cerca de dois anos tanto Trichet, Presidente do BCE, como o governador do nosso BdP, numa sessão muito interessante que se realizou na Gulbenkian, verberar a falta de controlo dos mercados financeiros.
Ora, essa tentativa de maior controlo está a chegar! As crises, como esta dos empréstimos de alto risco (subprime), trazem sempre consigo coisas boas. Segundo os media, são os próprios EUA que, pela voz do seu Secretário do Tesouro Henry Paulson, vieram anunciar uma reforma financeira do sistema de tal monta que só é comparável à que foi efectuada após a Grande Depressão, nos anos 30 do século passado. O que a reforma - sugestivamente intitulada "Programa para uma reforma regulatória" - propõe entre outras coisas é um alargamento dos poderes da Reserva Federal (Estado), que passaria a deter maior controle sobre a actividade de todo o sector financeiro, incluindo os bancos de investimento, as companhias de seguros e os fundos de investimento de risco (hedge funds), que até aqui têm estado isentos do controle bolsista. A Reserva Federal poderá estabelecer limites para os riscos assumidos pelas várias instituições sempre que isso constitua uma ameaça ao sistema financeiro.
É evidente que este Programa irá merecer alguma contestação, mas o facto de ele ter sido concebido e redigido constitui uma medida de bom senso evidente no país que se intitula de maior liberdade de mercados. Há crises que fazem rever os princípios e chamam as pessoas à razão. Afinal, se todos os homens fossem bons e soubessem agir dentro de sãos princípios, seria necessária a existência de governos?
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