Ao entrevistar seis alunos que obtiveram este ano os melhores resultados do 1º Semestre de uma determinada escola superior, fui questionado por eles sobre a maneira como chegara aos seus nomes. Expliquei-lhes que fizera um estudo e elaborara um relatório com as conclusões desse mesmo estudo para os órgãos directivos. Mostrei-lhe o documento de 65 páginas que tinha na mão. "Esse relatório está disponível para nós?", perguntaram-me. Respondi-lhes que não. O estudo tinha sido feito motu proprio com determinados destinatários em vista, e era portanto a eles que se destinava. "E por que razão é que não lhe temos acesso, se é sobre a escola?" Lembrei-lhes que há diferentes graus na comunicação. Por exemplo, numa empresa, há um grupo muito restrito de pessoas que tem acesso a toda a informação, mesmo a mais confidencial, há um segundo grupo mais alargado que pode consultar outro tipo de informação e existe, por exemplo, o site da empresa, onde a informação é disponibilizada a todos. Forneci-lhes, entretanto, alguns dados do relatório sobre os quais me perguntaram e que não havia qualquer problema em revelar.
Esta é parte de uma aprendizagem que fazemos - e praticamos - ao longo da vida. O que dizemos a B sobre C é por vezes algo diferente daquilo que dizemos a C. Compreensivelmente, diga-se. Há verdades demasiado cruas que nada ganham em ser ditas a determinadas pessoas. A questão que se põe é muitas vezes de tacto ou de educação. Entretanto, se houver problemas a resolver, é importante que eles sejam apresentados a quem tem poder para lhes dar uma resolução conveniente. Ventilá-los por todo o lado só pode agravá-los, e o nosso objectivo nº 1 é que eles sejam debelados e não alastrados.
Será isto fazer censura? É possível, mas de qualquer forma será censura não censurável - de facto, altamente recomendável até.
Mentir, como é? Conheci alguém que foi um verdadeiro mestre na arte de mentir. Nunca o intitularia de mentiroso, porém. Era - já faleceu - um homem sério, culto, possuidor de numerosos valores que por vezes cultivava e, noutros casos, preferia deixar de lado. Era aí que ele mentia. Mas mentia com tal convencimento que seria difícil descortinar que ele passava ao lado da verdade. Mais: se alguém dissesse à plateia que o escutava que naquele ponto ele estava a mentir, quase de certeza que os ouvintes diriam que ele a mentir não estava: quando muito, estaria mal informado.
O canadiano Marshall McLuhan expressou bem casos como este: "O homem mediaticamente bem sucedido é aquele que consegue fazer passar aos espectadores como sincera uma mensagem em que ele próprio não acredita."
Há dias li no Público uma entrevista com Paul Ekman, professor de Psicologia na Universidade da Califórnia, em que ele é peremptório: "Ninguém votaria num político que não fosse capaz de mentir." Diz mais: "É difícil apanhar um político a mentir. Porquê? Porque ele não se sente culpado." Conclui o seu raciocínio: "O problema dos líderes políticos é que eles lidam com os outros numa lógica de negociação e regateio. Ora, com vista a obter o melhor acordo, nem sempre podem dizer a verdade quando estão a negociar. E, mesmo quando se dirigem aos eleitores do seu país, se disserem toda a verdade, é um facto que também a estão a revelar aos partidos da oposição. Logo..."
Este é um posicionamento que me lembra uma carta ao director que há tempos li: "Os governantes têm o direito e o dever de mudar de opinião em função dos acontecimentos exteriores ao Governo e da forma como melhor pensam servir os interesses dos portugueses. Aliás, o mesmo se passa com os responsáveis das empresas de sucesso, que não podem seguir políticas rígidas, antes têm de estar prontos a reagir à envolvente exterior."
Adeus, Pinóquio!
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