10/18/2008

Os petrodólares

Ao longo dos anos, têm sido muitos os artigos que li sobre o poderio dos Estados Unidos e a forma como a América conseguiu, após a desintegração da União Soviética, constituir um mundo unipolar, em que se arvora como país dominante, não aceitando regras mais ou menos universais como as do Tribunal Internacional de Haia e do Protocolo de Quioto, tentando impor a sua democracia a países que possuem culturas diferentes, fazendo guerra a nações ricas em petróleo, marimbando-se para o mundo relativamente aos tratamentos dados a prisioneiros em Guantanamo, etc.
Como todos sabemos, essa unipolaridade presentemente já não existe e o recente escândalo financeiro que se iniciou nos Estados Unidos e contaminou todo o mundo veio levantar novas questões ou fazer ressurgir algumas antigas. A questão dos petrodólares que dá o título a este post está longe de ser nova. Mas foi algo que evoluiu com os anos. Chegou-me recentemente um PowerPoint assinado por um desconhecido para mim - William R. Clark -, que apresenta uma tese que me parece digna de consideração, onde a questão dos petrodólares é reanalisada a uma nova luz. O que ele diz é mais ou menos o seguinte: Aquilo que as pessoas crêem, que a guerra no Iraque e as ameaças ao Irão têm a ver com a existência de armas nucleares, com terrorismo ou mesmo com petróleo, não possui grande razão de ser. Do que verdadeiramente se trata é da manutenção do maior conto do vigário dos últimos anos: o esquema americano dos petrodólares.
Sucedeu que, em 1971, os EUA imprimiram e gastaram mais notas de dólar do que a cobertura-ouro aconselharia. Alguns anos depois, quando os franceses exigiram o resgate em ouro das suas reservas de dólares-papel, os EUA viram-se obrigados a recusar o pedido: não estavam em condições de o satisfazer. A América decidiu entretanto fazer um pacto com os sauditas, que dominavam a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP): todas as vendas de petróleo da OPEP seriam única e exclusivamente efectuadas em dólares. A partir dessa altura, todo o país que quisesse comprar petróleo teria primeiro que se munir de dólares dos EUA, o que significaria que aos americanos bastaria imprimir mais dólares em troca de bens e serviços. Era um passe de mágica.
Porém, o aparecimento do euro veio colocar uma alternativa real ao dólar. Tratava-se de uma moeda forte, sustentada por economias de 15 países, entre eles a Alemanha, a França, a Áustria, a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo, a Itália e a Finlândia. Foi aí que, descontente com os americanos por razões que facilmente se entendem, Saddam Hussein começou a vender petróleo iraquiano directamente em euros. Para os americanos só restou uma solução: eliminar Saddam. Os EUA aproveitaram o pretexto da destruição das torres do World Trade Center em Nova Iorque para meter o Iraque na ordem. Sem qualquer razão objectiva, como sabemos. Depois, uma das primeiras coisas que asseguraram foi que o sistema de venda do petróleo voltasse unicamente aos dólares.
Entretanto, o venezuelano Hugo Chávez começou a negociar petróleo também noutras moedas, incluindo o euro, o que terá levado a (infrutíferas) tentativas da CIA para o eliminar. Por seu lado, o Presidente do Irão decidiu avançar com a mesma medida, e foi mais categórico ainda do que Saddam: venderia petróleo em qualquer moeda, excepto em dólares americanos.
Nesta altura, se mais países fizerem o mesmo, acaba-se a maminha americana mais cedo do que os EUA esperavam. Sem esta verdadeira mina, o império americano entrará em declínio.
O que dizer desta tese? Não me parece totalmente inverosímil, de outra forma não a citaria aqui, mas gostava de ouvir algumas opiniões.

Sem comentários:

Enviar um comentário