Num curto espaço de tempo, tive a oportunidade de testemunhar três pequenos actos de honestidade, que me deixaram mais satisfeito com o mundo. Ainda por cima, provieram de três comerciantes. Nesta era de sacralização do lucro em que "quem não maximiza os ganhos é parvo", soube-me bem ver que não se pode nem deve extrapolar para a generalidade dos casos uma corrente que, de facto, parece ser dominante. Os episódios abaixo descritos são de reduzida importância em termos materiais, mas denotam uma atitude mental e ética que me dá gosto registar.
Na história número 1, fui a uma florista daqui do bairro comprar uma orquídea. É linda e não foi cara. Interessado em manter a flor pelo período mais longo possível e, mais tarde, fazer nascer uma nova, perguntei à dona da loja se tinha algum produto adequado para o efeito. Respondeu-me afirmativamente. E acrescentou, da sua experiência pessoal, um detalhe que apreciei: “Ponha sempre um pouco menos do líquido do que eles recomendam! A quantidade indicada é excessiva para a água que eles dizem. E não regue mais do que de três em três semanas. Esta flor não é como as outras.” Ali estava uma comerciante a ensinar-me não só de forma grátis aquilo que os anos lhe devem ter custado a aprender como ainda a aconselhar-me a usar menos produto, o que naturalmente significava gastar menos frascos e, para ela, ter menor lucro. A ética foi para ela mais importante.
Na história número 2, a minha mulher, que tinha há dias comprado um carro, foi comigo a uma oficina que lhe indiquei. Íamos mandar pôr um alarme no carro, o que parecia altamente aconselhável numa cidade em que os roubos não são raros. "Francamente", disse o rapaz novo que nos atendeu, "tratando-se deste tipo de Volkswagen acho que a senhora não precisa de gastar dinheiro no alarme. É um certo desperdício. O carro já vem equipado com sistema anti-roubo." Nós não sabíamos. A honestidade do atendedor poupou-nos umas centenas de euros.
No caso número 3, estávamos três adultos e uma criança de cinco anos sentados à mesa de um restaurante à espera que alguém nos trouxesse o menu. Já tínhamos antecipadamente escolhido o prato, no entanto: posta à mirandesa. Íamos recomendados por alguém que tinha comido esse prato na véspera e adorado. Foi exactamente isso, aliás, o que dissemos quando encomendámos duas doses. O dono do restaurante, que estava a atender-nos, mirou-nos aos quatro e sugeriu, tão honestamente quanto se pode ser, que uma dose e meia seria perfeitamente suficiente. Nós não tínhamos sequer colocado a questão. E a dose e meia, que estava deliciosa, chegou de facto para todos.
Estes são três breves apontamentos que espero contribuam um pouquinho para a elevação do nosso moral e nos façam ver que é obviamente errado acreditar na generalização do vozeario que clama a "podridão do mundo e total ausência de valores que campeia por aí". Há também muita coisa boa! Convém acarinhar estes comportamentos e, já agora, segui-los!
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