10/04/2009

Pensando melhor? - Uma experiência


Um artigo incluído no último número da revista TIME chamou-me a atenção pela novidade do assunto. Diz respeito a um dos estados norte-americanos menos conhecidos dos europeus em geral: Utah. Se fosse a Califórnia, a Florida, Nova Iorque, ou mesmo o grande enrodilhador de língua que é Massachusetts, chegaríamos lá com relativa facilidade. Mas Utah? Onde fica isso?
No mapa dos Estados Unidos, Utah fica mais para Oeste do que para Leste, entre o Colorado e Nevada, a norte do Arizona e a sul de Idaho e Wyoming. Zona índia que foi, o nome Utah deriva da língua nativa e tem o significado de "povo das montanhas". Hoje em dia, como seria previsível, já não se pode falar em povo que vive nos montes, entre eles as Montanhas Rochosas. Oitenta por cento dos 2 milhões e setecentos mil habitantes do Estado concentram-se à volta de Salt Lake City, que é a capital. Em termos de superfície, ocupa uma área equivalente a cerca de duas vezes e meia o território de Portugal. Sob o ponto de vista religioso, Utah é um dos estados mais homogéneos dos EUA, com cerca de 60 por cento da população a pertencer à Igreja Mórmon. Curiosamente, o Utah foi durante o ano passado o Estado que registou maior crescimento em termos de população nos Estados Unidos.
O povoamento de Utah data de 1847, sob a liderança do mórmon Brigham Young. Durante os 22 anos seguintes, mais de 70 mil pioneiros atravessaram as planícies e assentaram arraiais na região, como vários filmes western nos mostram. É uma terra inóspita, que os novos colonos foram tentando melhorar. "Trabalho" é o lema do Estado. Especialmente devido à sua poligamia, os mórmons tiveram problemas com o governo dos Estados Unidos, que enviou tropas para sanar a situação. A chegada de imigrantes não pertencentes à Igreja Mórmon só se concretizou com a entrada de mineiros vindos de outras partes para explorar as minas existentes no território. Em 1869, foi inaugurada a primeira linha de caminho de ferro transcontinental, com o seu terminal em Utah. O comboio trouxe muitos novos imigrantes e deu azo a grandes fortunas. Em 1890, os Mórmons aboliram oficialmente a poligamia. Hoje em dia, 95 por cento da população é branca, predominantemente de origem europeia (Inglaterra, Alemanha, Dinamarca, Suécia). Politicamente conservadoras, as famílias continuam a ter um elevado número de filhos, e de entre os costumes mais arreigados salientam-se as severas restrições existentes ao álcool e ao jogo.
Nos anos 50 e 60 do século passado, a construção da rede de estradas interestatais permitiu a descoberta de locais paradisíacos no Utah, que se tornaram famosas atracções turísticas. Por exemplo, o Utah gaba-se de possuir a melhor neve do mundo para a prática de ski. Recordaremos talvez que, há sete anos, os Jogos Olímpicos de Inverno se realizaram na zona de Salt Lake City. Hoje em dia, questões que envolvem o ambiente, como os transportes e o ordenamento do território, constituem temas prioritários em matéria de política, na medida em que o desenvolvimento consome terrenos agrícolas e afecta áreas protegidas.
Após este breve intróito sobre o Utah, que considerei necessário para melhor se entender o tema do título, eis a experiência. Há exactamente um ano, os serviços públicos, preocupados com a preservação do meio ambiente e com a poupança de energia, decidiram pôr em prática uma experiência inédita. Criaram a semana de trabalho de 4 dias, com 10 horas diárias, de molde a perfazer as mesmas 40 horas de atendimento público da semana tradicional. Assim, desde 2008 que as repartições públicas trabalham apenas de 2ª a 5ª feira, deixando livres aos 17 mil funcionários a sexta-feira, o sábado e o domingo. O horário é aquele que a foto, tirada do mencionado artigo, mostra. O lema do estado é respeitado, continua a trabalhar-se bem, não houve qualquer redução de salários e, ao fim de um ano de experimentação, foi possível chegar às seguintes conclusões principais: 1. Registou-se uma redução nos custos energéticos por parte do governo da ordem dos 13 por cento. 2. Os funcionários públicos terão poupado qualquer coisa como 6 milhões de dólares em custos de gasolina. 3. No geral, a iniciativa terá reduzido a emissão de gases com efeitos de estufa em mais de 12 mil toneladas métricas/ano. 4. Oitenta e dois em cada cem funcionários declarararm-se satisfeitos com os resultados obtidos (as objecções levantadas pelos restantes 18% tiveram que ver com dificuldades de horário devido a escolas ou creches para os filhos). 5. O horário de 10 horas diárias não pareceu excessivo aos trabalhadores, em parte devido ao incentivo da sexta-feira livre. 6. Graças ao horário alargado, muitos clientes dos serviços públicos deixaram de perder horas de trabalho para irem às repartições resolver os seus assuntos.
A concluir, diga-se que há outras cidades, tanto nos Estados Unidos como noutros países, interessadas em conhecer os resultados e em obter mais pormenores sobre a experiência.

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