1/01/2010

MIGHT IS RIGHT





É frequente colocarmo-nos a questão se existe ou não vantagem no facto de uma pessoa possuir poder. A resposta não é difícil: o poder constitui, normalmente, uma vantagem – a não ser que um poder maior o derrube. O grande trunfo de uma democracia a sério reside num verdadeiro estado de direito, que julga os casos independentemente do poder das pessoas envolvidas num determinado processo. Mas isso é raro encontrar, como se sabe.
E quanto a nações? É o poder igualmente importante? É, sem dúvida. Tanto ou mais, de facto. Só que esse poder encontra muitas vezes pela frente outro poder, e daí pode eclodir uma guerra. A força das armas, prova-o a História, é fundamental para uma supremacia de facto. Mesmo que seja apenas como elemento dissuasor.
A título de exemplo, muitos portugueses lembrar-se-ão bem do caso dos territórios portugueses na Índia, em 1961. O que poderiam fazer as nossas tropas, em número ínfimo perante o enorme exército indiano? Os indianos tinham o poder (might) e isso dava-lhes automaticamente razão (right). É assim. Esqueçamos a eventual razão no papel. Não passa da forma a lutar contra a substância.
Em tempos de paz, o poder militar, e também o económico, continuam a ser uma mais valia para dirimir certas questões. Recentemente, o Egipto, que foi outrora ocupado por europeus, lançou uma agressiva campanha destinada a recuperar para os seus museus nacionais peças preciosas que hoje ocupam papel de destaque em vários museus da Europa, de Londres a Berlim, passando por Paris, Viena e Budapeste. Têm logrado algumas pequenas vitórias. Por exemplo, conseguiram que o Museu do Louvre lhes devolvesse fragmentos de um túmulo com 3200 anos. Porque não devolver esses fragmentos?, terão as autoridades franceses pensado. Urge manter boas relações com países que nos compram aviões e armas. E, afinal, o que representam estes fragmentos que possuem a vetusta idade de três milénios, quando temos tantos outros?
Porém, outros bustos de Nefertiti, como aquele, lindíssimo, que se encontra no Museu de Arte Antiga em Berlim e que a foto acima reproduz, é que não há. A peça é um dos ex-libris do conjunto museológico de Berlim, juntamente com a Porta de Ishtar e a Via processional dos Leões, da antiga Babilónia, também acima mostradas em foto. A resposta da poderosa Alemanha ao pedido do Egipto para devolução de "Nefertiti" foi um rotundo "não!". Dizem os alemães que o busto foi legalmente adquirido há pouco mais de 100 anos. Além do mais, alegam, trata-se de uma peça artística demasiado frágil para ser transportada.
Ora, a partir daqui, que podem as autoridades egípcias fazer? Declarar guerra à Alemanha? Claro que não. Might is right. Os alemães têm (a sua)razão. Não foram também os poderosos americanos que tiveram razão quando, no final do século XIX, a Espanha se dispôs tenazmente a manter em sua posse a "fidelíssima" ilha de Cuba, contra o parecer dos Estados Unidos da América, vizinhos dos cubanos? O resultado foi: a derrota da Espanha, a entrega de Puerto Rico aos Estados Unidos, assim como de Guam e, imagine-se, das Ilhas Filipinas – tudo por uma quantia que foi francamente simbólica em face do valor que estava a ser doado.
É por múltiplas lições da História como esta que a Nefertiti vai mesmo ficar em Berlim. A não ser que, um dia, um anónimo egípcio enraivecido a destrua com uma bomba ou coisa parecida. Porém, aí a Nefertiti morreria de vez e ninguém lucraria com a acção. Acabaria por ser uma causa inglória, uma clássica vitória pírrica.

P.S. Este é um assunto muito mais vasto - basta o facto de incluir o colonialismo. Porém, os blogues não apreciam textos extensos. E, já agora, também não lhes agrada ver fotografias engalfinhadas umas nas outras. As minhas desculpas. Quantidade não significa qualidade.

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