Numa instituição de ensino superior, assisti há uns anos a uma conferência muito interessante sobre gestão de empresas proferida pelo engenheiro José Roquete, ligado à Herdade do Esporão e a outros empreendimentos. Com base no conceito da criatividade destruidora de Schumpeter, o orador insistiu várias vezes num verbo que na altura era ainda pouco usado em Portugal: "desinstalar". Queria naturalmente referir-se à necessidade de mudança constante e de inovação. Nesse sentido, recomendou aos alunos: "Não se instalem, desinstalem-se!"
Algo inapropriadamente talvez, esta conferência ocorreu-me ao tomar conhecimento de um episódio recente. Quem visita frequentemente exposições de arte moderna, decerto que já se deparou com aquilo que recebe a designação genérica de "instalações". Há instalações para todos os gostos, sendo que às vezes o visitante se inquire sobre a natureza daquela arte. No Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, algo como uma "instalação" da autoria do poeta-escultor americano Jimmi Durham sofreu uma séria amputação há cerca de três semanas. A peça, intitulada "As Frases" e composta por um texto sobre tela, um lavatório partido e 17 fragmentos de loiça no chão, tem presentemente algo substancial a menos. Inadvertidamente, uma funcionária da limpeza varreu os 17 fragmentos de loiça que encontrou espalhados no chão. Após a sua operação de varredura, deu aos cacos o destino que achou adequado: o lixo.
Sem querer, a referida funcionária executou um exemplo prático de desinstalação.
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