1/09/2005

ELITISMO

A imprensa noticia que, pelo menos desde 1957 até 1975, a Marinha britânica praticou uma política secreta de quotas paras as minorias, no sentido de limitar a admissão de "não brancos". Imagino que haverá reacções exacerbadas no Reino Unido e noutros países do mundo. Porquê? Por considerarem politicamente incorrecta uma prática que é, no mínimo, saudável. Por considerarem, erradamente, que o mundo deve ser feito à sua imagem igualitária de perfeição, embora seja constituído por pessoas que, todos admitem, não são perfeitas. Existe aqui um evidente erro de lógica.
O elitismo não é em si abominável. É mesmo essencial para o progresso do mundo. As diferenças entre ricos e pobres são cruciais para a existência de desenvolvimento económico. Sem elites, as nações e o mundo andam à deriva. O mundo ideal assemelha-se aos irrealistas desejos expressos nas bem intencionadas mensagens natalícias: paz em todo o mundo, que não haja pobreza, que todos possam ser felizes. Só que depois, ao virar da esquina, quando oito famílias de imigrantes argelinos, romenos ou moldavos vêm habitar dois andares do nosso prédio, no mínimo franzimos o nariz. Somos capazes até de nos reunir com todos os outros inquilinos "brancos" para combinar a nossa reacção. Será por serem estrangeiros? Certamente que não. Se fosse o cônsul da Argélia, o encarregado de negócios da Roménia ou o embaixador da Moldávia que viessem morar para lá, a receptividade até seria boa. A coisa é outra.
Mais 25 barracas para os lados de Camarate não provocam a intervenção da polícia. O estabelecimento de 1 (uma) barraca de ciganos nas proximidades da Quinta da Marinha levará a uma intervenção urgente e decidida. Porque será?
Quando, no país ou no estrangeiro, visitamos belos palácios e nos deliciamos com esplêndidas colecções de arte e tesouros magníficos, não podemos nem por sombras imaginar que tudo é o resultado de um mundo igualitário que nos foi deixado pelo passado. E esse mundo traz-nos agora prazer e deleite, apesar de ter sido obviamente elitista.
Quem está contra as elites, como a da Marinha britânica, não entende que, ao longo dos tempos, brilhantes oficiais, muitos deles com vastos conhecimentos científicos, não se teriam alistado na Marinha se ela fosse constituída por uma escória sem nível. O mundo das descobertas e da sociedade do conhecimento ganhou muito com a estatura intelectual elevada de muitos desses oficiais. Estar contra o elitismo é estar a favor de um impróprio nivelamento por baixo e, certamente, contra a ordem natural das coisas, como a própria natureza, animal e vegetal, o demonstra todos os dias.

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