Para além de saudar o reaparecimento de uma Ariadne em grande forma, gostei de aprender que os nossos tostões tinham tido a sua origem nos "testoni" italianos, com as efígies ducais tão típicas do Renascimento.
Quanto aos Thaler, bem, essa é uma das duas ou três dúzias de pequenas histórias que me fizeram ter imenso prazer em ser professor de guias-intérpretes nacionais durante cerca de três décadas. Puxando a brasa algo patrioticamente (ou patrioteiramente?) à nossa sardinha, eu costumava colocar aos alunos que iriam trabalhar com turistas americanos a questão nos seguintes termos: como é que os portugueses influenciaram a origem do dólar?
Dado que na nossa História se fala muito, e justificadamente, nos Descobrimentos, o assunto poderia ser levantado em múltiplas ocasiões. Como seria previsível, com turistas norte-americanos este era um tópico de interesse. Aprender alguma coisa sobre a sua moeda num país tão pouco relevante internacionalmente como Portugal e da boca de um(a) jovem guia-intérprete seria surpreendente.
A historieta que os nossos guias-intérpretes deveriam contar -- e muitos contam-na hoje, decerto -- era mais ou menos a seguinte: Há mais de quinhentos anos, os marinheiros portugueses foram sistematicamente explorando a costa de África, cada vez mais para sul. Nos mapas que iam desenhando, denominavam pragmaticamente as zonas pelo comércio que iam efectuando com os nativos. Assim surgiram a Costa dos Cereais, a Costa do Marfim, a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. A Costa do Ouro constitui, grosso modo, o actual Gana. Era aí que os portugueses recolhiam muito ouro, de que careciam para o seu comércio com a Índia. Regra geral, os indianos não aceitavam vender as suas especiarias contra outra forma de pagamento. Esse ouro africano, que costumava ter a sua rota habitual para a Europa através do Mediterrâneo, foi assim em larga escala chamado à costa atlântica de África pelos portugueses e por eles desviado para a Índia.
Ora, com o desvio de quantidades apreciáveis de ouro das rotas europeias e, simultaneamente, com o grande incremento do comércio na Europa durante o período de relativa paz do século XVI, houve necessidade de cunhar moeda num metal alternativo. A escolha recaíu sobre a prata e, como a Ariadne muito bem contou, nomeadamente sobre o Vale (Thal) de S. Joaquim, na Boémia. Mais tarde, com essa moeda a circular na Europa e o povoamento dos EUA por muitos emigrantes provindos da Europa Central, o Thaler impôs-se como moeda nacional americana, com a grafia de "dollar".
O que podemos concluir -- sem dúvida com algum tour de force! -- é que, sem o desvio do ouro das rotas europeias causado pelos portugueses nas suas viagens marítimas, é possível que não tivesse havido necessidade de recorrer à prata do Vale de S. Joaquim. Consequentemente, o dólar não teria sido criado. Dito de outro modo: com maior ou menor quinhão de influência, os portugueses terão estado na origem do dólar!
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