6/08/2005

Adapte, não adopte!

Um português que vá pela primeira vez a Amesterdão ficará surpreendido ao deparar-se com muitas janelas de cortinas totalmente abertas, mesmo nas casas que dão para os canais. Habituados que estamos a correr as cortinas das nossas janelas e a não deixar que devassem a nossa privacidade, surpreende-nos aquele outro modo de olhar as coisas. Na Escandinávia a situação é semelhante. Como também é para vermos costumes diferentes e entendermos mentalidades diversas que viajamos, arquivamos as nossas impressões. Será que, no regresso, vamos passar a fazer o mesmo? A "escancarar as janelas", como diríamos? É altamente duvidoso. Aspectos culturais deste tipo não mudam do dia para a noite. Enquanto uma inovação tecnológica pode ser abraçada de pronto, uma mudança de mentalidade fia muito mais fino.
Tudo isto vem a propósito do propalado objectivo do actual governo de abrir, a todos os cidadãos, as janelas do IRS de cada um. Com que finalidade? Entretanto, aquilo que deveria ter sido feito há muito -- o levantamento do sigilo bancário para as autoridades do fisco sempre que estas o considerem necessário -- permanece tal como estava. Já alguém imaginou o efeito na nossa sociedade de uma medida como a do "escancaramento" do IRS? Transformar-se-ia o país num paraíso para os coscuvilheiros e para os voyeurs. A nossa coesão social, que já é tão periclitante, diminuiria de forma dramática. E quais seriam os efeitos sobre as colectas do fisco? Nulos! Ver-se-ia aquilo que as pessoas declaram. Ora, naqueles contribuintes que verdadeiramente podem interessar ao fisco, essa declaração está decerto muito distante da realidade.
Não venham aplicar medidas dos países nórdicos em nações com mentalidade do sul! A regra de ouro destas coisas é a que se sabe: "Adapte, não adopte!"

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