6/25/2005

Marketing

Num comentário a um post deste blog, encontrei no outro dia uma referência a técnicas de marketing. Lembrei-me então de contar aqui, o que agora faço, uma história que para mim foi surpreendente. Há uns seis anos, numa viagem ao México sobre a qual já escrevi alguns apontamentos neste local, tive a oportunidade de visitar lugares particularmente interessantes. O que mais me entusiasmou foi o Estado de Chiapas, no sul, já perto da Guatemala. Região que alterna óptimas terras de cultivo com outras menos próprias, Chiapas possui no geral uma população pobre, pouco desenvolvida do ponto de vista de instrução, e com uma enraizada consciência de revolta. San Juan de Chamula é uma pequena vila com características interessantes. Sob o ponto de vista religioso, a população mistura de forma sui generis a religião católica com deuses locais. Um Santo António pode aparecer algo transfigurado, embora mesmo assim reconhecível, apresentando aquela simbiose típica dos povos que se deixam aculturar ma non troppo. É um Santo António que, juntamente com outros colegas da hagiologia hispano-mexicana, aparece aqui e além virado para a parede por não ter atendido um pedido do povo. No seu estrato menos educado, o povo tradicionalmente acredita em bruxas e quebrantos, em elixires e mezinhas de vários estilos. Avisaram-me que era de todo proibido tirar fotografias em San Juan de Chamula. Poderia facilmente ficar sem a máquina, como já tinha sucedido a outros visitantes. Devo admitir que, com as histórias que ouvi narrar antes de chegar a Chamula, esperava encontrar uma povoação desoladora. Nada disso! Alguns edifícios eram muito aceitáveis, os correios e a farmácia pareciam funcionar bem. É verdade que havia homens com armas nas ruas. É também um facto que um grande boneco representando Judas Iscariotes surgia pendurado e baloiçante lá no alto da igreja, do lado de fora, a pagar por todos os pecados que cometera. Estávamos na Páscoa. Porém, de tudo, o que mais me impressionou foram largos anúncios da Pepsi-Cola. "Como assim!", exclamei. "A Pepsi aqui!! Estes tipos estão em todo o lado!" "E é muito popular!", disseram-me. "Não entendo", repliquei. "Com o ódio que este pessoal tem aos gringos, como é que se explica a presença da Pepsi?" "Bem, a origem americana do produto não é realçada, até porque esta Pepsi é fabricada aqui no México. A questão é totalmente outra. Estas pessoas são muito temerosas dos espíritos, dos maus espíritos que as podem atormentar. Como se sabe, a Pepsi é uma bebida gasosa que faz subir algum gás à boca. Conseguiram convencer a população de que, além de saborosa, a Pepsi era o remédio ideal para expulsar os maus espíritos, garantindo portanto paz interior a quem a bebesse. O sucesso foi garantido!"
Admito que nunca tinha visto uma campanha tão certeiramente dirigida. O falecido Akio Morita, da Sony, diria que este era um exemplo perfeito do seu "Think global, act local!"

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