2/25/2006

Quantidade e qualidade

Num artigo inserido no Público, a professora Maria do Carmo Vieira afirma que hoje em dia existe um número descomunal de disciplinas no ensino básico: quinze! Aos miúdos fica assim negado o direito ao seu tempo livre e igualmente ao seu tempo de estudo.
Embora não conhecendo o assunto suficientemente bem, não posso deixar de ficar surpreendido com o número de disciplinas. Quinze!
Este facto trouxe-me à mente, por contraste, um dos dias mais felizes da minha vida. Tinha dez anos. Tendo feito a instrução primária na província, prestei provas de admissão aos liceus em Lisboa. Para continuação dos meus estudos, fui para Paço d'Arcos, onde poderia ficar em casa de uns tios. Iria fazer os meus primeiros dois anos do liceu com uma professora particular exactamente em Paço d'Arcos. A referida senhora dirigia um orfanato em Lisboa e preparava para o 1º e 2º anos na sua própria casa. Tinha grupos reduzidos de alunos, oito ou nove. No primeiro dia, apresentei-me, com toda a timidez de provinciano. Foi aí que, após a natural apresentação, a professora anunciou que as aulas do 1º Ano eram só da parte da manhã - rejubilei! - e... dia sim, dia não. Saltei! No meu regresso a casa, nem queria acreditar! (Só no 2º Ano é que as aulas seriam diárias, mas igualmente numa parte do dia.)
Tínhamos trabalhos de casa regulares, a aprendizagem foi excelente, passámos todos no 2º Ano e eu até dispensei das orais, com média de 16. Entretanto, os meus tempos livres foram fenomenais. Fiz bons amigos e passei um tempo que já na altura eu considerava estupendo. É por tudo isto que me surpreende - e faz imensa pena - que no ensino básico o número total de disciplinas seja de quinze! E tempo livre para a miudagem?

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