Ainda antes da campanha para a Presidência da República em França, Sarkozy avistou-se com Sócrates e elogiou-o abertamente pela sua acção política. Agradou-lhe a forma como, sem contestação de maior, Sócrates conseguiu não só pôr fim a várias situações de claro privilégio lesivo do Estado, como logrou introduzir reformas de vulto na Segurança Social.
Após um primeiro ano algo atribulado como Presidente, desde Maio último que Sarkozy se está a empenhar a fundo num vasto conjunto de reformas. Aproveitando o tempo estival em que muitos trabalhadores estão fora, Sarkozy assesta toda a sua artilharia naquilo que prometeu ao eleitorado francês. Baseado num relatório que ele próprio encomendou a uma comissão liderada por Jacques Attali, Sarkozy joga em vários tabuleiros. Attali forneceu-lhe 316 medidas. Ele já colocou várias em funcionamento, mas é agora que ataca a sério. Começou por adelgaçar substancialmente o obeso orçamento das Forças Armadas, reduzindo estas em 54 mil postos e desactivando dezenas de instalações militares. Por seu lado, o Parlamento francês já aprovou uma lei que facilita o despedimento de trabalhadores e em Julho deverá aprovar uma outra que vai permitir às firmas negociarem horas extraordinárias com os seus empregados - um golpe mortal na muito propalada semana-de-35-horas. Na calha está também legislação que vai permitir que os funcionários públicos sejam recolocados noutros departamentos estatais, ao mesmo tempo que se opera a redução dos efectivos através da não-substituição dos que saem. O Serviço Nacional de Saúde vai ser objecto de medidas drásticas a fim de sanar o seu crónico défice. Nas escolas, os professores viram substancialmente aumentado o número das suas horas de permanência. Em nome da sacra concorrência, mesmo leis antigas que protegiam o pequeno comércio têm os seus dias contados.
Mais coisa, menos coisa, todo este panorama soa a algo familiar para quem tem vivido em Portugal na era de Sócrates. O interessante é o facto de Sarkozy e Sócrates, embora tão irmãos nas suas acções, pertencerem a famílias políticas bem diferentes: um foi eleito pela direita - derrotou os socialistas de Ségolène Royal, como todos se lembrarão -, o outro recebeu maioria absoluta pela esquerda. Com medidas tão semelhantes, quem diria que um dos S era um socialista português e o S francês um acérrimo combatente do socialismo?
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