Uma das questões de fundo com que as oposições democráticas se debatem é a não-existência de uma coincidência verdadeira entre os seus desejos e os anseios dos cidadãos. Em termos simplistas, digamos que a maioria dos cidadãos anseia por um país com qualidade de vida, com ordem e disciplina, respeitado pelas outras nações. São anseios positivos. Por seu lado, os partidos da oposição têm de encontrar pontos fracos no governo que gere a nação, posicionamento que, inevitavelmente, os leva a apresentar um país com numerosos defeitos. Embora procurem concretamente confinar a atribuição desses defeitos aos actuais governantes, na sua cenarização os oposicionistas não deixam de apresentar múltiplos pontos negros do país em que os cidadãos vivem e do qual se sentem, jus sanguinis e jus solis, pertença. Ao actuarem assim, os membros e partidos da oposição estão inadvertidamente a agir mais como jornalistas derrotistas do que como pessoas efectivamente preocupadas com o real bem-estar da nação.
Os exemplos são inúmeros. Imaginemos que um governo diz que a situação económica do país está a melhorar. Logo os partidos da oposição tentam veicular uma opinião divergente, apresentando estatísticas diferentes que atestam que a situação económica do país se está, pelo contrário, a deteriorar. À acalentadora notícia que os governantes tinham transmitido sucede-se o balde de água fria. "Em quem devo acreditar?", pergunta-se o cidadão aturdido.
Se um governo diz que a área ardida este ano foi de 300 mil hectares, logo os oposicionistas procuram aumentá-la para, pelo menos, 350 mil. Idem com números do desemprego: se um governo diz que a taxa de desemprego se situa nos 7,2 por cento, logo virão membros da oposição dizer que, se formos examinar bem, a referida taxa andará quase pelos 9 por cento. Por outras palavras: parece que quanto maior a extensão da desgraça, melhor para eles. Uma notícia boa aquece o coração, acalentando o optimismo, a outra arrefece-o, revertendo para o pessimismo.
Dir-se-á: mas tem de ser assim. Não necessariamente. Toda esta situação faz naturalmente aumentar a dúvida dos cidadãos relativamente à seriedade dos políticos. Quem fala verdade? Por que motivo falarão os oposicionistas negativamente sempre que não estão no governo? Estas duas questões, a que se junta a notícia dos elevados rendimentos de alguns políticos que, aqui e ali, vêm a lume, levam o cidadão comum à conclusão lógica de que "o que eles querem é tacho. Estão-se marimbando para nós! Interessa-lhes apenas que a gente vote neles!" Assim se instala um pessimismo fortemente resistente, em vez de um reconfortante optimismo.
Neste sentido, os membros da oposição, sejam eles de que partido forem, são arautos da desgraça e contribuem poderosamente para a descrença e desoptimismo do país. Claro que esses partidos incluem mulheres e homens suficientemente inteligentes para compreenderem este fenómeno. Certamente por isso, quando um governo toma posse não se esquecem de dizer que vão fazer "oposição construtiva". Infelizmente para eles, mesmo ao verem que o governo adoptou um anterior projecto seu, apenas com uma ligeira nuance de variação, tendem a manifestar-se ruidosamente contra o projecto que enquanto estiveram no governo defenderam. Na medida em que o cidadão comum vê os "seus" políticos defenderem opiniões diferentes relativamente ao mesmo assunto apenas por estarem agora na oposição, interroga-se sobre a sua seriedade. Em que medida não são os "seus" políticos -- e, de caminho, todos os outros --, meros testas-de-ferro de interesses empresariais ou corporativos que manobram na sombra? Depois de os ver trocarem exaltadas palavras no Parlamento com os seus adversários, encontrá-los a acamaradar num restaurante ou na tribuna VIP de um clube de futebol como os melhores amigos do mundo faz o cidadão médio duvidar das suas intenções. Necessariamente. Esse cidadão questionar-se-á mais uma vez: porque não são os políticos mais consistentes e realmente construtivos? Porque não se preocupam mais com o bem-estar da nação, como deveria ser o seu permanente anseio? Será que os políticos são de facto meros "robertos" dos tais interesses ocultos?
Quando a dúvida se instala, é o optimismo que sofre. É por isso que a fé religiosa -- ou a clubística -- anima muito gente e constitui um refúgio permanente. A ela se alia o desinteresse político. Só que a fé, ela própria, não passa de realidade virtual. Mesmo assim, enquanto dura, dá um grande consolo à alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário