Num apontamento recente, referi-me às mudanças em curso nos Correios devido às novas tecnologias que entretanto se vão desenvolvendo. Talvez seja interessante, na já habitual secção sobre a origem das palavras, determo-nos um pouco nos Correios e no que gira à sua volta.
A palavra inglesa post, que significa correio e que encontramos, por exemplo, em Post Office e em by post, deriva do "posto" ou estação onde um homem com um cavalo (ou mais) esperava por mensagens e iniciava depois o seu troço, tal como se faz com a passagem do testemunho numa corrida de estafetas.
Na palavra "malaposta", temos as duas palavras que são usadas na língua inglesa para correio: uma é a acima referida post e a outra, mais americana, mail. Esta última provém da mala onde se transportava o correio.
O termo "correio" provém do provençal corrieu, ligado a "correr" e a "corredor", o que está relacionado com a noção de estafeta acima referida. Daí que esta designação seja aplicada também a jornais (que transportam notícias), como o Correio do Minho, o Correio da Manhã, Morning Courier ou o Correo della Sera. Da transmissão de notícias à transmissão de cartas, estas contendo notícias, não saímos do mesmo mundo, o da malaposta que corre.
Da ideia de corredor e de estafeta vem a estatueta de Mercúrio. Mercúrio era o deus romano do comércio, filho de Júpiter e mensageiro dos deuses. Sob a influência do deus grego Hermes, tornou-se o deus dos viajantes e protector desses mesmos viajantes. Na sua representação iconográfica, Mercúrio apresenta-se frequentemente com um chapéu decorado com duas asas e também com asas nos pés. Na mão empunha geralmente uma vara de louro, que recebeu a designação de "caduceu". Este caduceu tornou-se a insígnia dos antigos arautos.
Os arautos eram os funcionários que, durante o período medieval, levavam as declarações de guerra ou de paz, ou anunciavam postos públicos. Daí também a sua associação figurada a mensageiros e correios. Por este motivo, a palavra inglesa herald (< frâncico heriwald) entrou na designação de jornais, de que o New York Herald Tribune é um exemplo bem conhecido. E como é que o arauto se anuncia? Com uma corneta, como hoje ainda fazem algumas viaturas que vendem peixe ou gelados pelas aldeias. O cláxon é uma corneta. Ora, é essa corneta que não só se vê em muitas caixas de correio antigas como é também o símbolo de alguns correios, como por exemplo os alemães -- pelo que aparece em muitos dos antigos selos germânicos.
Por seu lado, os selos são as marcas da entidade que, contra o pagamento da tarifa neles especificada, efectua o transporte de cartas e encomendas. Em alemão, a palavra "selo" é Briefmarke ("marca de carta"). Para além de contribuírem para o gáudio de muitos coleccionadores, entre os quais se inclui este escriba, os selos vêm constituindo ao longo do tempo uma forma interessante e prática de publicidade. Foi e continua a ser muito frequente a utilização do selo para publicitar a figura de Chefes de Estado, fazendo portanto com que o rosto dos monarcas ou presidentes se torne conhecido em todo o país e no estrangeiro. Antigamente, era principalmente através da cerâmica, de quadros e tapeçarias que se dava a conhecer a figura real, logicamente com uma cobertura de público muitíssimo menor do que aquela que o selo permitiu a partir do século XIX. A comemoração, através da emissão de selos, da passagem de aniversários de eventos, de personagens e de temas que são caros aos regimes políticos constitui uma prática frequente. A publicitação, igualmente através de bonitos selos, das belezas naturais de uma ou várias regiões, de costumes tradicionais e de datas históricas contribui indubitavelmente para a exaltação do nacionalismo.
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