No dia em que Sócrates se guindou a Primeiro-Ministro, escrevi neste blog que o seu grande teste seria o madeirense Alberto João. Esse teste não consistia no abrandamento da incontinência verbal do chefe da Madeira -- incontinência essa que já faz parte do bailinho insular --, mas sim no controlo apertado das finanças públicas da Região Autónoma, na parte que verdadeiramente dói. Até ao momento, Sócrates nada fez.
Há poucas semanas, não foi por acaso que aqui registei antigas palavras de Cavaco Silva, ainda apenas como professor universitário, comentando a facilidade do enviesamento da economia pelos políticos e as suas consequências -- ele que, infelizmente, viria a seguir essa senda mais tarde como Ministro das Finanças e como Primeiro Ministro.
Neste momento, sejamos claros: o descontrolo das finanças públicas portuguesas é enorme. Foi elaborado um plano de recuperação para Bruxelas, com a credibilidade possível para fazer baixar para 6,2% do PIB o défice público no final do corrente ano. O valor de 6,2% é inédito em termos da zona euro! A ele se junta uma dívida pública avultada, que também ultrapassa os limites estabelecidos.
Pois bem! É nesta ocasião particularmente difícil, quando é preciso reforçar a componente técnica do governo e diminuir a componente política -- da qual todos estamos fartos e vemos as consequências não só no dia-a-dia como também no horizonte de curto e médio prazo -- que Sócrates resolve forçar a demissão de um homem que tem provado ser mais técnico do que político. O artigo de Campos e Cunha, publicado na edição de domingo do Público, é obra de um homem de bom senso, um administrador que sabe que só se consegue arrumar a casa com verdadeira contenção. O artigo não menciona nem a Ota nem o TGV, mas é evidente que acha esses projectos despropositados neste momento. São projectos de fachada política. Sócrates não aprendeu a lição de Santana Lopes. Cedeu, tal como Cavaco Silva, aos políticos. Não admitiu opiniões minimamente pensantes no seu governo. Actuou de forma que neste blog apodei de "castração política". Agora, quem é que aguenta os Jardins e os esfomeados autarcas, ansiosos de ganhar eleições? "É fartar, vilanagem!".
A partir daqui, Sócrates contará com tudo, menos com o apoio deste cidadão.
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