7/25/2005
Origem das Palavras VI - Castelo de S. Jorge
Há um santo na história de Portugal que foi, a partir de certa altura, ingratamente talvez, posto de lado pelos nossos compatriotas. O santo em questão chamava-se Iago, nome difícil já de si, derivado de Iacob. Em face da dificuldade de pronúncia, galegos, castelhanos e portugueses não estiveram com meias medidas: prefixaram-no de "Santo" e passaram a chamar-lhe "Santiago". Ora, sucede que esse santo tinha uma fama terrível de mata-mouros. Não havia, portanto, luta contra a moirama conduzida por forças ibéricas que o não invocasse. Com esse inimigo comum para os cristãos, tudo correu bem até à batalha de Aljubarrota. Aí, os nossos inimigos castelhanos -- ajudados por bem treinados cavaleiros da Gasconha -- traziam-no como padroeiro,embora os portugueses não fossem propriamente mouros. Quanto às lusas hostes -- ajudadas por mercenários ingleses com bom treino da arte de guerrear adquirido durante a celebrada Guerra dos Cem Anos -- tinham igualmente Santiago como padroeiro. O problema era bicudo. Criar-se-iam hesitações ao santo, suposto ser neutro num caso destes (esta parte da história lembra-me "As Peregrinações de um Santo", um belo texto escrito por uma das nossas co-bloguistas). Para não o colocar em maus lençóis, os portugueses decidiram então pedir emprestado aos ingleses, que na altura eram ainda católicos, o seu santo padroeiro: S. Jorge. Fosse porque S. Jorge estivesse habituado a lutar contra o dragão ou porque os gascões não sabiam da presença dos ingleses e julgavam que a batalha seria ganha facilmente, o certo é que os melhores cavaleiros gascões foram feitos prisioneiros quando decidiram avançar sozinhos, uma vez que as suas montadas foram certeiramente atingidas pelos Robin Hoods que tinham vindo em nossa ajuda. Com os seus convidados prisioneiros e, logo a seguir, mortos, o rei dos castelhanos decidiu que aquela não era a ocasião ideal para combater e decidiu voltar para casa. Estava decidida a batalha de Aljubarrota e, com ela, a independência de Portugal. O rei português casou entretanto com uma nobre inglesa, tiveram filhos ilustres e viveram muito felizes. Ao castelo de Lisboa onde residiam quando não estavam no seu palácio de Sintra decidiram dar o nome do santo que, na batalha contra Santiago, lograra obter uma retumbante vitória. É assim que até hoje temos, no topo de uma das sete colinas da cidade, o Castelo de S. Jorge.
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