10/24/2005

Banca ocidental no Médio Oriente

O facto de o Islão, ao contrário do que sucede na nossa civilização, não estabelecer uma separação entre religião e direito, faz com que todas as suas leis sejam religiosas. A Sharia, de que por vezes lemos sobre várias práticas, constitui um conjunto de regras concretas para determinados procedimentos.
A Newsweek publicou há relativamente pouco tempo um artigo sobre a Sharia e a banca. Porque se tem falado aqui neste blog de questões éticas e da banca, pareceu-me interessante abordar o assunto. Sabendo nós que o Corão não só proíbe o empréstimo de dinheiro para fins lucrativos como também o patrocínio de um conjunto de actividades não-islâmicas, como o jogo, o tabaco, as bebidas alcoólicas e produtos à base de carne de porco, onde é que os muçulmanos investem o dinheiro que possuem? A resposta é simples: em bancos que cumprem a Sharia. E podem ser bancos ocidentais? Porque não? Desde que cumpram as regras preceituadas. Nos conselhos de administração de bancos como o Citi Islamic e o ABN AMRO, no Bahrein ou nos Emirados, têm lugar individualidades muçulmanas conhecedoras tanto de finanças como da Sharia, que zelam pelo cumprimento das regras. Em vez de pagar ou de cobrar juros, a finança islâmica baseia-se na propriedade colectiva ou no arrendamento / aluguer de activos, como o imobiliário, metais preciosos e outras commodities, que, com o tempo, tendem a valorizar-se. O Islão proíbe fazer dinheiro através de dinheiro, mas não é contra actividades comerciais e de leasing.
Desde 1996 que o Dow Jones, de Nova Iorque, oferece índices de acções consideradas particularmente adequadas para investidores islâmicos e recomendadas por um grupo de peritos da Sharia. Contudo, desde o 11 de Setembro de 2001 que muito do dinheiro que geralmente era investido nos Estados Unidos deixou de emigrar, ficando portanto na região. Foi aí que bancos americanos e europeus entraram em cena, adaptando-se às regras islâmicas. Se o dinheiro não vem para o ocidente, o ocidente vai ter com o dinheiro. Calcula-se que o valor dos depósitos em bancos que cumprem os preceitos da Sharia atinja presentemente mais de 250 biliões de dólares, a que se juntam outros investimentos da ordem dos 400 biliões. Com o petróleo aos preços a que está, não é nada para admirar. O curioso é ver como bancos ocidentais, com o renome internacional da Société Générale, BNP Paribas e do Deutsche Bank, além dos acima mencionados, entraram celeremente, e bem, no mercado. Mais um caso típico do think global, act local. Neste caso particular, não actuar segundo os preceitos e costumes locais seria falhar em toda a linha.

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