O último relatório das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano permite, como tantas vezes sucede em casos semelhantes, interpretações positivas e negativas. Um exemplo: nos últimos 15 anos, 130 milhões de pessoas terão saído da pobreza extrema, mas por outro lado ainda há 2500 milhões, i.e. 40 por cento da população mundial, a viver com cerca de 1 euro e meio por dia! Como se sabe, os países pobres podem ter o seu mais importante meio de sustento, e mesmo de exportação, no sector agrícola -- certamente não no da indústria ou no dos serviços. Podem ou poderiam? Poderiam. De facto, não conseguem competir com os países ricos nem nesse sector, pois apesar de aqueles lhes darem com uma mão mil milhões de dólares por ano em ajudas à sua agricultura, com a outra gastam exactamente o mesmo montante por dia em subsídios aos seus próprios agricultores. Como se torna evidente, assim não há comércio justo que resista.
Mais: o dinheiro que os países pobres recebem dos ricos está ligado a aquisições a preços especiais nos países em desenvolvimento e à obrigatoriedade de compras daqueles nos países doadores a preços superiores aos do mercado livre. Caridade interesseira!
Nestas questões do desenvolvimento humano, há aspectos que de longe superam as meras medições do rendimento nacional bruto, sendo a taxa de mortalidade infantil e a esperança de vida factores importantes, entre vários outros. O Brasil, o mais populoso país de língua portuguesa, apresenta uma gritante desigualdade de rendimentos, com os dez por cento mais ricos a deterem quase metade do rendimento nacional, enquanto os dez por cento mais pobres não possuem mais de 0,7 por cento desse mesmo rendimento.
Os países humanamente mais desenvolvidos são a Noruega, a Islândia e a Austrália. Três antigas colónias portuguesas -- Angola, Moçambique e Guiné-Bissau --figuram entre os menos desenvolvidos. Portugal situa-se em 27º lugar entre 177 países.
Estas panorâmicas globais são importantes em muitos aspectos, mas não podem fazer-nos esquecer que as medições de pobreza se fazem dentro do mesmo país. As pessoas comparam-se com as que vêem à sua volta e não com as que estão num outro canto do mundo. Aliás, por definição, um pobre de um determinado país é alguém que dispõe de menos de 60 por cento do rendimento médio nacional. Assim, um americano pobre pode possuir rendimentos francamente superiores aos de um africano pobre e considerar-se, por comparação com os seus compatriotas, mais infeliz do que esse africano. E a felicidade conta!
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