Uma das mudanças mais notórias do newspeak português é a substituição de "sexo" por "género". Não é substituição total, bem entendido, pois não há possível substituto cabal para o sexo. A verdade, porém, é que o sexo, que dantes não só era, como, naturalmente, se praticava, agora só se pratica. Para ser, usa-se "género". Fala-se em igualdade de género onde dantes se falava em igualdade de sexos. Mesmo assim, admito esta fórmula perfeitamente, porque a antiga podia prestar-se a confusões.
Essas confusões, aliás, terão realmente existido, segundo algumas crónicas, no preenchimento de formulários. Nome, nacionalidade, data de nascimento e coisas quejandas não ofereciam quaisquer problemas, mas na rubrica "Sexo", parece que havia quem respondesse "Diariamente", "Três vezes por semana" ou "Quando possível". Talvez para evitar estes quid pro quod chegou o género.
Neste meio tempo, fico hesitante perante o uso ou não-uso de expressões como "vestuário unissexo" e "cabeleireiros unissexo". Uma vez que o género "é", e o sexo "aquilo que se pratica", fico receoso de controversas interpretações.
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