10/25/2005

Gastronomia portuguesa

Eu sei que há tasquinhas em tudo quanto é feira. Sei também que qualquer Bolsa do Turismo de Lisboa apresenta anualmente uma quantidade notável de comes-e-bebes. Mas continuo a considerar que a Feira de Gastronomia de Santarém é das melhores do país. Estende-se ao longo de cerca de três semanas, o que permite aos restaurantes apostarem no seu melhor. E quem diz restaurantes diz, obviamente, casas de doces. E de presuntos. E de queijos. Sem faltarem os vinhos, claro.
Dei uma saltada à Feira num dia pacato. Com uns amigos de velha data. A única grande decisão que tivemos que tomar foi entre saltitar de tasquinha em tasquinha, petiscando e bebericando aqui e ali, ou abancar num sítio e comer. Esta hipótese seria eventualmente mais cómoda, a outra mais interessante. Foi o não-abancar a alternativa escolhida. E foi também uma alegre romaria, saborosa, apaladada, rica e variada, de região em região. Qualidade: impecável. É realmente extraordinário fazer uma peregrinação deste tipo e apanhar, por vezes no prato, por vezes só no menu, petiscos tão díspares como maranhos e bucho, da Beira Baixa, chanfana, cracas dos Açores, pezinhos de coentrada, ensopado de cabrito e torresmos do Alentejo, peixinhos da horta, sopa e arroz de lingueirão, choquinhos fritos e xerém do Algarve, posta mirandesa, posta maroeira, nacos na pedra, enguias fritas, ensopado de enguias, sável, leitão da Bairrada e eu sei lá mais o quê. Uma delícia, quando se come um pouco disto e um pouco daquilo, que o que se encomenda é para o grupo e cada um só petisca. Pão do melhor, jarros de vinho óptimo: as tascas estão a concurso e, no final, haverá prémios para os melhores. Doçaria conventual de bom nível e extraordinária variedade.
Ponhamos por uns dias a política de lado e revejamo-nos neste mosaico de elevada qualidade que é a comida portuguesa. Podem muitos dos nossos valores ter caído, mas há sempre outros que mais alto se alevantam. Estes são uns deles. Quem puder tasquinhar assim num dia pouco concorrido considere-se um felizardo. Comeu e bebeu do melhor que Portugal tem. E ao fazer as contas, divididas por todos, não pagou muito. É que a concorrência aperta e preços demasiado altos deitariam tudo a perder.
Salvo erro até 3 de Novembro -- mais uma sugestão saborosa do João Miguel -- convém não perder Santarém.

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