Todos nós sabemos como é: vendem-nos o Pai Natal quando somos pequenos e, logo logo depois, a linda história, que mete renas e trenós, sacas e sacas de cartas endereçadas ao simpático velhote de barbas, desaparece para se transformar numa comezinha ida ao centro comercial mais próximo. É uma machadada grande na nossa imaginação e, o que é mais, um destruir da crença em algo bonito, que poderíamos e saberíamos criar e recriar à nossa maneira. Felizmente que sobraram ainda algumas coisas onde podemos espraiar a nossa fantasia, mas mesmo essas estão a tornar-se cada vez mais raras. Vejam os ovnis. Estão mais do que desacreditados. Quem fala já do "abominável homem das neves"? "Isso é patranha", dir-nos-ão logo. Pela mesma cartilha se rege o monstro de Loch Ness. Uma história que atravessou mais de um século agora já nem na silly season reaparece. Em Portugal chegou a dizer-se, relativamente à salazarenta figura que governou o país durante umas largas décadas: "O monstro de Loch Ness / de quem tanta gente zomba / não me aquece nem arrefece. / Já o mesmo não acontece / com o monstro de Santa Comba." Hoje, quem se iria lembrar do pobre monstro do lago?
Oiço aqui alguém dizer que o imaginário está a ficar preenchido com ficção científica e com histórias do Harry Potter. Que seja! Mas depois de os livros, desalentadoramente, já nos terem informado que as avestruzes, apesar de tudo o que se diz, não enfiam nem nunca enfiaram a cabeça na areia, acabam de me tirar mais uma das minhas certezas: afinal, diz a imprensa de hoje, a areia movediça não engole pessoas. Dois físicos holandeses e um francês têm o desplante de negar uma coisa que enchia os livros de tantos autores que me deram imenso prazer ler. Então, como fazemos agora com as histórias do Tarzan em que vários dos "maus" eram engolidos pelas areias do deserto? O autor, Edgar Rice Burroughs, mentia? Mais um? Transcrevo do jornal Público: "A areia movediça não passa de areia saturada com água. Quando uma pessoa menos atenta a pisa, os grãos de areia isolados pela água perdem a estabilidade e correm para baixo, como se fossem líquido. Nesse momento, não vale a pensa tentar sair da areia movediça, porque a força necessária para mover um pé é igual à que precisa para levantar um carro de tamanho médio. Aguarde apenas que os grãos de areia assentem, abanando então as pernas. A própria capacidade de flutuar da mistura vai acabar por empurrá-lo para a superfície."
A ciência devia ser usada para estudar outras coisas que não destruir mitos. Não se pode exterminar cientistas deste tipo?
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