Os médicos gostam de dizer que somos muito o espelho daquilo que comemos. E têm toda a razão quando se referem à obesidade ou à excessiva magreza por excesso ou carência de comida. É óbvio que existem também motivos de ordem genética ou disfunções ocasionais que podem provocar a gordura ou o emagrecimento, mas o que se come conta muito.
Os póneis são lindos cavalinhos que nascem e crescem nas ilhas Shetland. Devido ao facto de essas ilhas britânicas serem batidas por fortes ventos oceânicos, os pastos não são ricos, pelo que os animais crescem pouco. Há umas décadas, um americano imbuído de espírito de iniciativa e sentido comercial pensou que teria um óptimo mercado na América se conseguisse criar póneis no seu país. Ao fim de duas gerações, porém, os póneis que tinha importado transformaram-se em cavalos normalíssimos.
Os chineses são, em grande medida, tão pequenos por falta de comida adequada (a situação tende a melhorar, obviamente). Ao fim de duas ou três gerações nos Estados Unidos -- e há milhares de chineses que todos os anos emigram para lá -- eles ficam praticamente da mesma altura dos americanos. Sob um determinado ângulo, os chineses são póneis humanos, como lembrava Josué de Castro na sua Geopolítica da Fome.
Quando vamos a Marrocos, somos surpreendidos pelo tamanho dos burros locais. São francamente mais pequenos que os burros lusitanos. A razão é a mesma que trouxe os muçulmanos a invadirem a Península Ibérica no primeiro século da era de Maomé. Aqui havia mais água, mais frutos, a terra era mais rica -- era, no fundo, a terra que os textos do Corão prometiam.
Nós, portugueses, somos hoje também substantivamente mais altos do que no passado. No último século crescemos em média cerca de dez centímetros. É claro que tudo tem a ver com o maior consumo de carne, de leite, de ovos, e outros géneros alimentícios que um menor poder de compra e um mundo diferente não nos colocavam ao alcance do prato.
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